12 de julho de 2007

Usabilidade e qualidade estética, que relação?

Que relação existe entre a qualidade estética de um produto e a sua usabilidade?

Esta questão foi o tema central de uma discussão, a propósito de um pedido de revisão de nota de um trabalho académico de Ergonomia no Design de Produto. Em debate estavam duas versões distintas deste problema.

Que argumentos foram esgrimidos parte a parte?

Eu justificava a avaliação dada, não muito elevada, afirmando que ao trabalho apresentado faltava qualidade estética. Ou seja, apesar de não ter erros graves, responder razoavelmente ás questões da ergonomia e ter boa usabilidade nunca seria um bom produto, porque era um produto feio, com uma linguagem estética incoerente e pouco atraente. E esse facto faz dele um mau projecto de design. O aluno defendia-se argumentando que a questão estética era irrelevante, que o que estava em avaliação era o facto de ele ter sabido resolver, com rigor, as questões da ergonomia, logo, da usabilidade.

Claro que este é tema pode cair rapidamente nas teias do subjectivo porque, como diz o ditado: “gostos não se discutem… mas adiante. Sem querer discutir, aqui, aquela avaliação em particular, gostava antes de discutir o cerne da questão: qual o peso do factor estético na qualidade do produto?

Está bem documentado, por diversos autores, o fenómeno da interacção entre a usabilidade e a atracção (entenda-se como qualidade estética, noção de belo) atribuídas a um produto. Em inglês - "aesthetic-usability effect". Na prática, este efeito faz as pessoas atribuírem maior usabilidade aos produtos que consideram bonitos, mesmo que isso seja falso. Ou seja, os produtos atraentes são avaliados como sendo mais fáceis de usar e vice-versa. Inclusivamente, as falhas e os defeitos desses produtos atraentes são consideradas irrelevantes ou toleráveis. Naturalmente, as pessoas demonstram mais paciência, tolerância, fidelidade, motivação e empenho durante o uso dos produtos que lhe agradam. Assim, com esta predisposição para uma avaliação positiva, o rigor da percepção da qualidade do produto fica enviesada e comprometida.

Exemplos típicos desta dualidade são alguns dos telemóveis da Motorola, que apresentam péssima usabilidade (ver artigo do Ivo Gomes) mas que são muito procurados pelo seu design atraente ou, o site http://www.useit.com/, que respeita todas as regras da boa usabilidade mas desagrada (esteticamente falando) à maioria das pessoas que o consulta.

Eu sei que isto parece pouco racional e demasiado emocional, mas é assim mesmo. Isto faz parte da essência do ser humano e, logo, do design e da ergonomia. Por todas as razões apresentadas é vital, para o design, a concepção de produtos belos, atraentes e agradáveis!... E isso não é antagónico, em nada, aos princípios da ergonomia.

Mais informação em:

Boulton, Mark (2005), Journal, Aesthetic-Usability Effect, March 6, 2005

Norman, D. A. (2002). Emotion and design: Attractive things work better. Interactions Magazine, ix (4), 36-42.

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