31 de outubro de 2007

Será que é mesmo necessário?...

Eu sei que, domesticar animais, é um dos desafios mais antigos que o homem enfrenta. Também sei que se estabelecem relações muito interessantes e, por vezes, duradouras, entre humanos e não humanos. Também é sabido que muitos animais serviram, e servem, de inspiração para invenções humanas, como o radar (morcegos), a asas dos aviões (pássaros), o helicóptero (beija-flor), entre muitos outros. O design também recorre, muitas vezes, a uma área designada por biónica que incentiva a procura das soluções na própria natureza. Por tudo isto, eu entendo a atracção que os animais exercem sobre todos nós, designers incluídos. Mas, por mais razões que possam justificar esta opção zoomorfa há coisas que me custam a aceitar. Uma delas, é a concepção de gadgets em forma de animal quando, na verdade, essa forma nem será a mais interessante para a função em questão. Para mim, é uma estratégia de marketing duvidoso para ajudar a vender tralha, que ninguém precisa, mas a qual, quando disfarçada de personagem de banda desenhada, querida e ternurenta, poucos conseguem resistir. Porém, esta é uma estratégia nada inocente, é inimiga do planeta e da sustentabilidade da vida na Terra, pois, incentiva ao consumismo irreflectido e à rápida obsolescência dos produtos.

Outra questão de difícil compreensão é a lógica dos critérios usados para seleccionar o animal a replicar. Entre outros exemplos tristes, já vi um aspirador em forma de pato, agora vejo um pinguim, que usa um chapéu alto e laço, a dar forma a um temporizador de imersão de saquetas de chá.




O “Penguin Teaboy” é um pequeno dispositivo, que inclui um relógio/contador no seu interior, que pode ser programado para intervalo até 20 minutos. A ideia é suspender a saqueta no bico do pinguim e marcar o tempo desejado. O pobre “animal” fica encarregue da nobre missão de mergulhar e retirar a saqueta da chávena. Assim, o chá ficará sempre como nós gostamos…

Mas que ligação existirá entre o pinguim e o chá?

estive na China, país com antigas tradições na arte do chá e não vi lá nenhuma ligação entre estes dois elementos (muito embora este seja um produto muito típico das lojas chinesas).Também não me consta que no Reino Unido, outro bastião do chá, usem pinguins para este fim. Será que é apenas uma analogia entre a coloração da pele do pinguim e a farda dos empregados de mesa?... básico demais…

E se eu consumir chá sem ser em saquetas? Que animal seria o indicado para este caso?
Vocês comprariam/compraram este produto? Porquê?
Será que ele é mesmo necessário?... :-S

30 de outubro de 2007

Moda: Aluna portuguesa ganha Concurso Internacional de Moda em Espanha

Segundo a notícia divulgada pela agência Lusa, a 6ª edição do Concurso Internacional de Design de Moda da Extremadura foi ganha por uma aluna portuguesa, do Instituto Politécnico de Castelo Branco.


Selma Pereira, de 23 anos e natural de Lagos, aluna do terceiro ano do curso de Design de Moda da Escola Superior de Artes Aplicadas (ESART) do Instituto Politécnico de Castelo Branco, ganhou com uma colecção inspirada na obra do arquitecto catalão Gaudí.


A Selma foi escolhida entre 20 finalistas oriundos de escolas espanholas, portuguesas e alemãs, conquistando o primeiro prémio do concurso internacional, no valor de três mil euros.


O segundo prémio, de mil euros, foi atribuído à alemã Svetlana Makstat, da escola alemã de moda internacional ESMOD, tendo ganho o prémio de criatividade a desenhadora Selina Elkuch, da mesma escola. O prémio de melhor colecção extremenha foi entregue a Rocío Córdoba, de Coria, que cruzou a arte do século XVIII com a dos anos 80.


Parabéns!...


Ler mais aqui: SOL

Programa do Seminário Sociedade acessível

Programa do Seminário Sociedade acessível - Pontes para a igualdade

Para os interessados, passo a divulgar o programa do Seminário Sociedade acessível - Pontes para a igualdade, que decorrerá no dia 7 de Novembro, no fórum cultural de Alcochete.


comissão cientifica:
Instituto Superior Técnico. Faculdade de Motricidade Humana

PROGRAMA:

9:30h - Sessão de Abertura
Idália Moniz (Secretária de Estado Adjunta e da Reabilitação);
Luis Miguel Franco (Presidente da Câmara Municipal de Alcochete);
Dinora Silva (Presidente da Direcção da CERCIMA);

10:30h - Design Inclusivo
Casa Inclusiva - Cristina Weber (Fund. Port. Comunicação);
O Ensino do Design Inclusivo - Uma ponte para muitos futuros - Paula Trigueiros (Arquitecta Especialista);
Design para a Diversidade - Joaquim Coelho Rosa (LPDM);

11:00h Pausa para café /Exposição

11:30h - Boas Práticas na Diversidade
Ajudas Técnicas – José Pedro Matos (CIDEF)
Praia Acessível – Carlos Pereira (INR)
Museus e Monumentos para Todos - João Rebelo (Movijovem)
Acessibilidades na Rede Nacional de Turismo Juvenil - Peter Colwell (ACAPO)

13:00h Almoço

14:30h - Criar Oportunidades
Comunicação Aumentativa - Luis Azevedo (ANDITEC)
Brinquedos Adaptados - Carla Faria
Ajudas Técnicas na Educação – a designar (UTAC)

15:30h Pausa para café /Exposição

16:00h - Desporto para Todos
Movimento Paralímpico - A designar (F.P.D.D.)
Special Olympics – Regina Mirandela Costa (S.O.Portugal)
Testemunho - a designar

17:00h - Sessão de Encerramento
Movimento DansasAparte – “Passagens” (CERCIMA)
Grupo Expressão Corporal CÃO - “KomTacto” - Coop. S. Pedro

> Valor das inscrições: 15€ para alunos/sócios da Cercima e 20€ para o público em geral.

Para mais informações e para realizar a inscrição contactar:

Cercima
Rua D.Nuno Álvares Pereira, nº 141
2870 Montijo
Telefone: 21 230 8510
Fax: 21 230 8511
E-mail: seminario_cercima@sapo.pt

29 de outubro de 2007

Rapidinhas...


> Concurso Nespresso 2008 - faltam 3 dias para o deadline

Não se esqueçam que as inscrições, para o concurso Nespresso, terminam já na próxima quarta-feira, dia 31 de Outubro de 2007.



> Design & CC: SOS!

De 1 a 3 de Novembro de 2007 decorrerá o 3º Encontro Internacional UNIDCOM/IADE 2007 sob o lema DESIGN & CC: SOS! Design and Commercial Communications: Seek Optimal Synergies.

O evento terá lugar no bonito Palácio Pombal, na rua do Alecrim (Chiado), a sede cultural do IADE.



> Sociedade acessível – Pontes para a igualdade

No próximo dia 7 de Novembro decorrerá, no Fórum cultural de Alcochete, o Seminário Sociedade acessível – Pontes para a igualdade, onde serão abordados os temas: Design inclusivo; Boas práticas na diversidade; Criar Oportunidades; Desporto para todos.

Via: Design Português



> Curso de Especialização em Design para a Diversidade

Estão abertas as inscrições para a 2ª edição do Curso de Especialização em Design para a Diversidade promovido pelo Instituto Superior Técnico, em parceria com O Centro Português de Design e a Fundação Liga. O curso conta, também, com a participação do European Institute for Design and Disability e da Design For All Foundation.

Inscrições: 1ª fase até 15 de Novembro



> Textura Pattern – cria um desenho para estampar

A textura Pattern é um concurso da TEXTURA, uma companhia de design de moda, que procura promover novos talentos nesta área do design. Este concurso destina-se a qualquer criativo, desde que cidadão europeu, que esteja interessado em criar um desenho, ou padrão, que possa ser estampado em diferentes superfícies, desde um sofá a um chapéu.

Primeiro prémio de 6.000 euros.

O prazo de submissão de propostas termina a 30 de Novembro de 2007.



> Concurso Transformar o velho em Novo

O concurso “Transformar o velho em Novo”, promovido pela Caixa Geral de Depósitos, visa contribuir para a preservação dos recursos naturais através da promoção e viabilização de alternativas de concepção e produção de Design Amigo do Ambiente. Os materiais a usar deverão ser provenientes das fileiras de reciclagem (Fileira de Metal; Fileira de Plástico; Fileira de Madeira; Fileira de papel e cartão).

Podem concorrer todos os estudantes do Ensino Superior, das áreas de Design e Arquitectura, matriculados no ano lectivo 2007-2008.

As candidaturas deverão ser formalizadas até 30 de Novembro de 2007.



> 2ª edição dos Prémios Futura do Design de Comunicação

A AND, em parceria com a Prodigit@l/Fopren estão a realizar a 2ª edição dos dos Prémios Futura do design de comunicação. O prémio, destina-se a premiar o mérito do design de comunicação português, realizado durante o ano de 2007, e está aberto a todos os diplomados em design de comunicação. Todos os trabalhos seleccionados serão expostos durante os 3 dias de duração do 3.º Salão Internacional de Impressão, Imagem, Comunicação Digital e Têxtil Promocional, ou seja, dias 29 de Fevereiro, 1 e 2 de Março de 2008.

A data limite para a apresentação dos trabalhos a concurso termina no dia 15 de Fevereiro de 2008

Links: Regulamento; Ficha



> Concurso de Diseño Cerámico | CEVISAMA INDI

Estão abertas inscrições para o Concurso Internacional de Design Industrial e Inovação Tecnológica de Produtos Cerâmicos para Arquitectura, no âmbito da CEVISAMA. Este concurso está aberto a estudantes de design, belas-artes, arquitectura e engenharia, de escolas espanholas e de todo o mundo e ainda a licenciados há menos de dois anos à data do concurso.

As inscrições estão abertas até 14 de Janeiro de 2008



> Projecto De.:SID

O Centro Português de Design é parceiro do projecto De.:SID bem como a Associação Portuguesa de Designers.

Este projecto de Investigação Científica, intitulado “Design como recurso estratégico empresarial: estudo dos impactos do Design” que está a ser desenvolvido, sob coordenação do Professor Doutor Luís Romão, por uma equipa multidisciplinar de investigadores.

A entidade de acolhimento é a Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa.

Para mais informações: DeSid.pdf

Via: CPD

28 de outubro de 2007

27 de outubro de 2007

Fábrica de Braço de Prata



Aleluia para mais um novo espaço cultural de Lisboa, este inaugurado no passado dia 14 de Junho.

Corridas do Bairro Alto, a Ler Devagar e a Eterno Retorno juntaram forças e partiram rumo a Braço de Prata para se alojarem na antiga fábrica da zona.

Antes um local onde de fabricava material de guerra; agora aqui, discutem-se ideias, fabricam-se conceitos e cria-se arte. Várias salas, diversas artes, um sem fim de propostas encerradas no mesmo espaço. Cada porta esconde um segredo. Existem quatro salas de galeria. Uma livraria polvilhada de exposições, uma livraria convencional, três salas que serão lojas, uma sala onde a sétima arte ganha vida e uma esplanada. Um espaço moderno com uma decoração minimalista mas uma atmosfera agradável que vai convidando o visitante a ficar e ir ficando.

Inadvertidamente, torna-se habitué... Kafka, Nietzche, Arendt, Deleuze, Virginia Wool, Turing, Artaud, Tcekov, Visconti, Marguerite Duras e Beauvoir. A memória de todos estes vultos passeia-se nos corredores e cada um delas apropria-se de uma das onze salas.

Rua Fernando Palha 26 - Lisboa1950-131 LISBOA

Estacionamento privativo com capacidade para 200 carros.
O horário de funcionamento será de quartas a sextas, das 20h às 2h, Sábados, das 10h às 2h, e domingos, das 10h às 22h. Para além das livrarias, há concertos, filmes, debates, lançamento de livros, representações teatrais, exposições.

Informação recolhida de:
http://www.lifecooler.com
http://www.bracodeprata.org/
http://www.lerdevagar.com/

Design quotes

(…)”design is being heralded as an essential contribution to successful corporate strategy and innovation. But it wasn’t that long ago that many corporations only thought of design as a way to “make things pretty”.

Luke Wroblewski

26 de outubro de 2007

Métodos de avaliação em design #10


> métodos e técnicas:

9) Análise da tarefa


Antes de falar sobre a análise da tarefa (task analysis), propriamente dita, é importante entendermos a diferença entre os termos tarefa e actividade. Muito embora sejam usados, na linguagem corrente, de forma indistinta, são diferentes. Sumariamente, a tarefa é o trabalho teórico, ou seja, aquilo que é suposto / previsto ser efectuado. Por outro lado, a actividade é a forma como o indivíduo realiza esse trabalho, ou seja, as estratégias e os conhecimentos que ele põe em marcha para alcançar os objectivos que lhe foram estipulados. Naturalmente, as condições colocadas à disposição do indivíduo (ambientais, físicas, técnicas e organizacionais, etc.), condicionarão o seu desempenho.


A análise da tarefa visa conhecer, de forma detalhada, como é composta a tarefa a ser desempenhada. Dito de outra forma, é a análise de como a tarefa é efectuada.


Podemos esperar obter, de uma análise da tarefa, diversas informações úteis ao projecto:


> detectar eventuais discrepâncias, entre a forma como foi pensada / planeada a tarefa e como esta é executada na realidade (Qual é a adequação entre as sequência previstas e as efectivamente seguidas? Qual é o grau de adequação? Qual é a melhor forma para o fazer?);


> conhecer os quadros mentais e comportamentos dos envolvidos no processo de concepção. Muitas vezes, aquilo que é óbvio e fácil para um especialista (ex. engenheiro, designer, etc.) não é nada fácil nem óbvio para o utilizador leigo;


> compreender quais são os objectivos dos utilizadores, ou seja, aquilo que estão a tentar alcançar, ou, querem fazer com este produto/sistema;


> identificar aquilo que eles fazem para alcançar esses objectivos (Quais são os passos que eles percorrem para o fazer - como é que as pessoas fazem isto?) e a forma como raciocinam sobre o sistema;


> determinar quais são as características pessoais, sociais e culturais que os utilizadores trazem consigo para a realização das tarefas;


> perceber de que forma, os utilizadores, são influenciados pelo envolvimento físico e pelos conhecimentos prévios que possuem;


Entre as vantagens associadas ao uso desta técnica estão a possibilidade de antecipar, com rigor, as condições físicas, ambientais e os tempos necessários para execução das tarefas; seleccionar / remover, com consciência, componentes da tarefa; estipular sequências de acção; identificar as etapas onde ocorrem mais erros, incidentes e acidentes; compreender os mecanismos de recuperação desses mesmos erros e detectar quais etapas de maior/menor dificuldade para os utilizadores, etc.


Esta análise poderá incluir uma descrição detalhada das actividades físicas e cognitivas, bem como detalhes da tarefa (tempos, frequências, recursos mobilizados, grau de complexidade, condições ambientais, requisitos específicos de vestuário e/ou equipamento), entre outras variáveis envolvidas, ou necessárias, para o desempenho bem sucedido da tarefa.


A análise pode ser efectuada para tarefas de carácter maioritariamente físico e, nesses casos, iremos prestar mais atenção a aspectos como os tempos, os movimentos, as forças, etc. Mas, também pode ser efectuada para tarefas de carácter sobretudo informacional / cognitivo, onde ocorre pouco trabalho físico, e as tarefas dependem mais de aspectos como a tomada de decisão, a aprendizagem, os erros, a compreensão, etc.


Os dados resultantes desta análise podem ser usados como restrições / constrangimentos para novas soluções / propostas de design e na avaliação dos seus conceitos de base.

Importa salientar que, não temos que efectuar a análise, obrigatoriamente, com produtos já existentes, ou sistemas já implementados, ela pode ser feita usando maquetas, protótipos funcionais ou simulações. Também pode ser efectuada em ambiente laboratorial, com condições controladas e, não apenas em campo.

Diversos problemas podem ser alvo desta análise. Tradicionalmente, ela foi concebida para avaliar sistemas produtivos complexos (linhas de montagem, sistemas complexos, etc), mas pode ser usada para avaliar aspectos mais específicos, como um simples posto de trabalho, ou o uso de um determinado produto. Foi, também, aplicada com sucesso ao design de interfaces e ao design de aplicações para a Web. A análise da tarefa também pode ser usada no contexto escolar, pelos professores, para fazerem uma análise da adequação dos seus curricula ás capacidades dos alunos.

Esta análise da tarefa, de que estamos a falar no post de hoje, pode complementar a análise de que falámos na semana passada, o “think aloud” (TA), ou análise de protocolo. Por exemplo, numa situação em que se verificam distorções nos dados obtidos pelo TA esta análise da tarefa pode ajudar a clarificar as sequências de operação. O recurso ás imagens de vídeo, de que falámos a propósito das técnicas de observação pode ser usada para determinar os componentes da tarefa. As restantes técnicas, faladas noutros posts, como as entrevistas, questionários, gravações de conversas mantidas com os diversos trabalhadores, são também possíveis de serem usadas conjuntamente com esta análise.

Com frequência, este trabalho de análise termina com uma representação hierárquica dos passos / etapas necessárias para desempenhar a tarefa (hierarchical task analysis) e/ou uma representação do fluxo de trabalho [ver imagem de cabeçalho]. A melhor forma de representar estes dados é recorrendo a diagramas, fluxogramas ou outros gráficos semelhantes, muitas vezes divididos em camadas (layers). Da leitura dos dados deve ficar muito claro qual é objectivo principal da tarefa, as sub-tarefas que poderão estar envolvidas e a sequência de acções que a tarefa precisa para ser realizada.

Uma forma simples de começar a análise é definir o objectivo da tarefa e, de seguida, listar todos os passos envolvidos para o obter, ou seja, o conjunto de eventos que terão que ocorrer para que seja alcançado o objectivo proposto de forma satisfatória. O nível de detalhe desta decomposição depende do projecto em questão.

Para iniciarmos a decomposição da tarefa podemos colocar, a nós próprios, a pergunta: como é que esta tarefa é realizada? Noutros casos, quando iniciamos a análise a partir de um elemento localizado num nível hierárquico inferior, podemos perguntar – porque é que isto é efectuado? De seguida, passaremos para a decomposição a tarefa em grande blocos, que possam ser, por sua vez, decompostos em sub-tarefas e operações (gráfico hierarquizado). Esta fase revelará a estrutura principal da tarefa global. É desejável que, num grau maior de detalhe, sejam construídos os fluxogramas, identificados os momentos e os processos de decisão, bem como efectuados layouts rudimentares.

Muito importante, para a qualidade da análise, é que sejam evidentes as sequências entre os elementos da tarefa. Uma forma, relativamente fácil, de avaliar se a decomposição está correcta é verificar se a soma dos sub-objectivos, atribuídos a cada sub-tarefa, completa o objectivo da tarefa global. Pode ser muito útil pedir a um terceiro elemento, estranho ao processo, que faça uma avaliação global da análise (avaliação da consistência da descrição).

Gostaria de terminar alertando para a existência de diferentes análises que, podem sem confundidas entre si, mas que têm objectivos distintos: job or performance analysis; learning analysis; cognitive task analysis; content or subject matter analysis; activity analysis.

Com este post termino a série dedicada aos métodos de avaliação da usabilidade em design. Espero que sejam úteis...

Referências:

_Hackos, J. & Redish, J. (1998). User and Task Analysis for Interface Design. Chichester: Wiley.

_Kirwan, B. & Ainsworth, L.K. (Eds.) (1992). A Guide to Task Analysis. London: Taylor and Francis.

_Kirwan, B. and Ainsworth, L. (Eds.) (1992). A guide to task analysis. Taylor and Francis.

_Nielsen, J (1994) Extending Task Analysis to Predict Things People May Want to Do

_Preece, J., Rogers, Y., Sharp, H., Benyon, D., Holland, S. & Carey, T. (1994). Human-Computer Interaction. Reading MA: Addison-Wesley.

_Shepherd, A. (1985). Hierarchical task analysis and training decisions. Programmed Learning and Educational Technology, 22, 162-176.

_Shepherd, A. (1989). Analysis and training in information technology tasks. In D. Diaper, Ed. Task Analysis for Human-Computer Interaction, pp.15-55. Chichester: Ellis Horwood.

Links:

usabilityfirst
usabilitynet.org
usability.gov
classweb.gmu.edu

25 de outubro de 2007

Kleensex



O tema deste post está relacionado com a prostituição e sexo. Pode parecer, à primeira vista, que o tema está desenquadrado no âmbito deste blog, mas não está. Tudo aquilo que envolve o Homem, os seus comportamentos e a sua qualidade de vida diz respeito ao design e à ergonomia. Nesse sentido, devemos deixar os preconceitos de lado, devemos deixar de rotular os comportamentos e devemos falar sobre eles e investigá-los com a maior imparcialidade. Foi, precisamente, essa vontade de colocar o design ao serviço dos outros que me chamou atenção para o projecto dos Kleensex, da autoria da designer espanhola Ana Mir, do Emiliana Design Studio.

Os KLEENSEX são lenços, ou toalhetes, que foram concebidos para ajudar a melhorar a higiene íntima após contactos sexuais. Será, sobretudo, indicado para os trabalhadores do sexo, ou, para quem pratica sexo em sítios onde não há acesso a casas-de-banho. Este produto, que é ainda apenas um protótipo, foi submetido ao prémio Índex Award, na categoria Body.

Para fazer este trabalho, a designer entrevistou e observou a realidade das prostitutas. Acabou por concluir que este produto fazia falta e que podia ajudar a melhorar a saúde de muita gente. Para que o produto pudesse ser aceite e ter o sucesso comercial necessário deveria ser
fácil de transportar, não ter a aparência de um produto médico, poder ser vendido em máquinas de venda automática a um preço acessível, ser reciclável e possuir uma embalagem atraente.

Não conheço a realidade em Espanha mas, em Portugal, devido à hipocrisia da nossa sociedade, a prostituição é ilegal mas é praticada onde calha. Basta percorrer algumas ruas, da cidade de Lisboa, a qualquer hora do dia, para verificar que é uma actividade em crescimento.

Gostava de concluir afirmando que não sou favorável à prostituição mas, também não defendo a falsa moral e acho que, se não fomos capazes de a eliminar até agora, também não vale a pena olhar para o lado… pois ela irá continuar a existir. Será, com certeza, muito mais humano enfrentar o problema e encontrar formas de minorar o impacto que essa prática tem sobre a sociedade.

24 de outubro de 2007

“Maiden Voyage” - João Branco

Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro (ed.) (2006). Maiden voyage. João Branco. Monografia publicada por ocasião da homenagem prestada pela Universidade de Aveiro a João Branco, nas comemorações do Dia da Universidade, em 15 de Dezembro de 2006. ISBN: 978-972-789-228-0

Hoje acordei azeda. Algo tristonha e sorumbática. Talvez, por causa de estar a chover e o Outono ter regressado empurrando, para longe, aqueles dias de Verão tardio que temos vivido. Como que de propósito, assim que me sentei na secretária os meus olhos poisaram sobre a monografia do João Branco que recebi, há poucos dias, lá no IADE e ainda não arrumei na estante. Fiquei mais triste ainda, com as lágrimas a pressionaram os olhos, deixando um ligeiro ardor…

Conheci o João Branco, no IADE, quando fui sua aluna de Métodos de Design e da Investigação em 1993, no 4º ano de design de industrial. Mais tarde fui sua colega, até 2001 (ano em deixou o IADE,) tendo tido oportunidade de conversar bastante com ele, sobre design em geral e sobre a possibilidade de fazer estudos pós-graduados em design, que era uma preocupação que tinha nessa época.

Respeitava muito a sua opinião pois, as suas aulas tinham sido uma referência forte na minha formação. Era uma figura sedutora, com um certo ar malandro, de sorriso sempre no canto dos lábios. E com uma voz inconfundível, que calava a assistência.

Soube da sua morte em Coimbra, quando estava num seminário promovido pela EUAC. Disse-mo o Carlos Barbosa durante uma conversa onde falávamos do passado. Senti o mesmo que sinto agora… um sabor azedo, pela injustiça de uma morte tão estúpida e imatura.

O João Branco tinha muito para dar ao Design Português. Foi uma grande perda para toda a comunidade. Infelizmente há doenças que não respeitam os sentimentos humanos…

Há pouco tempo, fiquei a saber que a UA - Universidade de Aveiro, em conjunto com a família do João Branco, criou um prémio de design com o seu nome. Este galardão, com o valor pecuniário de 5.000€, visa contribuir para a promoção e o desenvolvimento da investigação científica em qualquer domínio da área do Design. O objectivo é distinguir, anualmente, os autores de um trabalho de investigação na área do Design, que se evidencie pelo seu carácter inovador.

As candidaturas ao prémio, relativo à edição de 2007, terminam a 12 de Novembro.

link: Prémio João Branco distingue inovação em design

Aí está uma excelente forma de manter viva a memória do nosso colega!

23 de outubro de 2007

Interactive media design competition

Está a decorrer o período de submissão de trabalhos ao 14th annual Communication Arts Interactive Design Competition.
Podem ser submetidos quaisquer trabalhos de design interactivo (trabalhos para a World Wide Web, CD-ROM, quiosques interactivos, dispositivos móveis, etc.).

O prazo de submissão termina a 11 de Janeiro de 2008.

22 de outubro de 2007

Feliciano: "O Type Designer"!



Mário Feliciano é o type designer português do momento. Diria mais, Mário Feliciano é o type designer internacional do momento.
O jornal dinamarquês Politiken usa a Flama. Tipografia com assinatura portuguesa, desenhada por Feliciano. O re-design do periódico é da autoria de Palmer Watson.
O Adressenvisen da Noruega, também redesenhado por PalmerWatson usa alguns pesos da MorganAvec e algumas versões da Olisipone.
O Manchester Evening News, usa na sua base os tipos Eudald News e Olispone.
O jornal The Lawyer, apresenta-nos um re-design de John Belknap da Belknap Co. e usa a fonte Olisipone.
O jornal dos tripeiros, O Jogo, redesenhado pelo Atelier Henrique Cayatte usa também como tipografia base a Olisipone.
Para além de todas estas aplicações da tipografia de Mário Feliciano, o designer português chega agora a terras de nuestros hermanos.
Mais uma fonte portuguesa que inspira um periódico: o novo 'El País'.
Um El Pais renovado «nasce» no domingo. Com assinatura de Feliciano, na fonte claro!
A primeira grande mudança nota-se logo no tipo de letra. O
El País abandona definitivamente o Times Roman e adapta o Majerit. Mais uma tipografia com assinatura portuguesa, melhor ainda, com assinatura de Mário Feliciano.
Para além de todas estas tipografias é também de referir que o Eudald News é também usada no nosso periódico português Diário de Notícias.
O Expresso, berliner semanal, tem também assinatura de Mário Feliciano. A fonte, com o mesmo nome que o jornal, foi desenvolvida propositadamente para o periódico aquando do seu re-design de Broadsheet para o seu formato actual. O re-design é da autoria do espanhol Javier Errea.

Enfim, um sem número de exemplos da aplicação tipográfica de produção nacional, não só no nosso país mas também por essa Europa fora.
Quem sabe um dia, "Mário Feliciano, typedesigner" numa aula perto de si!
Feliciano Type Foundry

International Journal of Design

Já está disponível, on-line, o segundo número do International Journal of Design.

Este jornal, com revisão feita por especialistas, é de acesso livre e dedica-se a publicar trabalhos de pesquisa em inúmeras áreas do design. Pretende assumir-se como um fórum, a nível internacional, para discutir tudo aquilo que diz respeito ao design. Tem, também, por objectivo servir de plataforma de troca de conhecimentos, entre os académicos e a indústria, dando ênfase ás pesquisas realizadas e à utilidade, bem como à aplicabilidade prática dos resultados obtidos.

21 de outubro de 2007

20 de outubro de 2007

Design quotes

“Content comes first... yet excellent design can catch people's eyes and impress the contents on their memory.”
Hideki Nakajima.

19 de outubro de 2007

Métodos de avaliação em design #09


> métodos e técnicas:
8) Análise de protocolo

A técnica de avaliação por protocolo é mais conhecida como “Think-aloud”, em português – “Pensar alto”. Este procedimento consiste em estimular os participantes a verbalizarem, durante o uso do produto/sistema, todos os seus pensamentos. Ou seja, a tornar “visível”, para o investigador, aquilo que está oculto dentro da mente do participante. Dessa forma, o investigador terá acesso, em tempo-real, a informação importante sobre o mapa mental dos utilizadores, suas dúvidas, suas dificuldades, seus raciocínios, para onde estão a olhar, o que estão a sentir, etc. É uma óptima técnica, amplamente usada em diferentes domínios e com diferentes objectivos, para avaliar o comportamento humano.

A técnica do “Think-aloud” foi descrita, inicialmente, por Ericsson & Simon [1] em 1993. Mais tarde, foi desenvolvida por Someren et al [2]. Hoje em dia é muito popular, entre os investigadores e surge em imensas metodologias de investigação. A informação que resulta deste procedimento é muita e rica mas, pouco estruturada e caótica. No entanto, podemos recorrer a diversos métodos para a analisar.

Habitualmente, esta técnica é usada conjuntamente com o registo em vídeo/áudio, de que falámos no post da semana passada. Esses registos são, posteriormente, transcritos, segmentados e sujeitos a interpretação, para se poder fazer a análise do seu conteúdo. Durante a observação, o investigador deve limitar-se a tomar notas, sem fazer quaisquer interpretações do que está a observar.

Existem algumas críticas sobre esta técnica. As preocupações estão, sobretudo, relacionadas com a possibilidade de os participantes não falarem sobre tudo o que é importante, ou, poderem agir segundo automatismos difíceis de verbalizar. Para além disso, há ainda a possibilidade de a exigência cognitiva, afecta à verbalização, poder interferir na execução da tarefa. Porém, mesmo considerando as críticas, esta técnica continua a ser uma boa fonte de informação sobre o que as pessoas pensam sobre as soluções de design. Com a vantagem de poder ser aplicada em qualquer fase do percurso projectual.

Um procedimento muito semelhante é designado por “talk-aloud”. Este, envolve, igualmente, participantes a falar, mas com a diferença de estes se concentrarem apenas em descrever as suas acções, sem darem mais explicações. É um procedimento mais objectivo, porque os participantes limitam-se a informar do que irão fazer de seguida, antes de a acção ser efectuada.

Referências:
[1] Ericsson, K., & Simon, H. (1993). Protocol Analysis: Verbal Reports as Data, 2nd ed.,
Boston: MIT Press.
[2] Someren et al - http://staff.science.uva.nl/~maarten/Think-aloud-method.pdf

18 de outubro de 2007

Tipos, tipos e tipografia!

Aqui fica um vídeo interessante, que mostra como a tipografia pode contar uma história. Esta história obviamente, não é contada segundo o ponto de vista frásico ou fonético, mas sim através dos seus atributos formais.
Só para ver, entender e claro,... curtir!



link:

David Fonseca - "Superstars"

Information design, because it must reach everyone...

Clearly, there's a crying need for information design in our modern world, for data that is organized, written and presented so everyone can understand it. When the design of information is left to chance the result is information anxiety. And when things become too complex, when an environment defies common sense, when technical requirements are allowed to prevail over human considerations, then someone has to intervene. This is where the information designer comes in. It's his (or her) job to know that what's required here is more than just "good" design. What's the point of creating a swell-looking layout and printing it in attractive colors when all the wrong questions are being asked in all the wrong ways? The design of information may first involve translating a message from one language to another, or from official or technical jargon into plain English, or from complicated diagrams into straightforward listings. Information design, because it must reach everyone, is as much about process as anything else. This is more than likely to be news to your average graphic designer. Most designers are conditioned to regarding the design of information as something that is somehow beneath them; they'd rather be left alone to design posters, logos and glossy brochures, which probably pay better anyway. And besides, who wants to spend their time trying to figure out what information is needed and where it should be put?

Information Design by Erik Spiekermann, 2002

Universal Design Handbook

Preiser, W. & Ostroff, E.[Eds.] (2001). Universal Design Handbook. McGraw-Hill. ISBN 0071376054.

O livro “Universal Design Handbook” é a obra recomendada desta semana. É um manual extenso, completo e abrangente sobre aquilo que podemos designar por Design Universal (muito embora, esta terminologia não seja de definição pacifica).

Para além dos inúmeros conteúdos abordados o livro disponibiliza-nos, também, as orientações preciosas do "Americans With Disability Act” e muitas outras recomendações de diversos países. Como complemento, o livro inclui um CD-ROM contendo informação técnica adicional, orientações, normas e regulamentos.

É uma obra repleta de bons exemplos e boas práticas relacionadas com as questões da acessibilidade. São abrangidos inúmeros aspectos, das questões da acessibilidade física em espaços construídos à acessibilidade na Web. Poderão constatar essa abrangência pelo pequeno resumo, que vos apresento de seguida, com os principais tópicos abrangidos no livro.

_Residential, commercial, workplace, office, educational, recreational, and entertainment

_Elderly and/or disabled people, and children
_Vision, hearing, touch, and developmental disabilities as well as mobility limitations
_Telecommunications, information technology, and electronics accessibility
_Automobile and product design
_Outdoor, wilderness, and children's play areas
_Healing design
_Assessment of individual needs
_Legal issues and cases
_International standards, from the ADAAG to Japan, Canada, Australia, and more
_Problem-solving case studies from around the world


Link: este livro no GoogleBooks

Boas leituras

17 de outubro de 2007

Prémio de boas práticas ambientais



Com o objectivo de incentivar as boas práticas ambientais, bem como contribuir para aumentar a reflexão sobre o ambiente, a Valorsul instituiu um
prémio anual Valorsul, de boas práticas ambientais, que já vai na sua 4ª. Edição, e que procura promover projectos que incidam sobre as problemáticas associadas à produção, recolha, tratamento e valorização de resíduos sólidos urbanos.

As categorias a concurso são: jornalismo; comunicação e produto/equipamento. São aceites sínteses, ou partes de trabalhos académicos (ex.: dissertações de pós-graduação, mestrado, doutoramento).

Podem participar todos os autores portugueses, ou residentes em Portugal, que concorram (individual ou colectivamente) com trabalhos realizados no território nacional. Cada concorrente pode apresentar até 3 propostas.

Para aqueles que não estão motivados para as questões ambientais informo que existem 25.000 razões/euros (valor do prémio) para começarem a pensar mais sobre esta temática…

Quanto a mim, acho que deviam existir mais iniciativas semelhantes a esta. Como designer, ainda que em “banho-maria” por causa da bolsa de estudo, não me vou a esquivar às responsabilidades e, desde já, me disponibilizo para auxiliar qualquer um dos meus alunos que se disponha a participar neste prémio… Vamos a isso… mãos à obra!

As inscrições terminarão (e não “terminaram” como se lê no site) a 31 de Maio de 2008.

Links:
> Regulamento
> Formulário de Candidatura
> Prémio Valorsul - Histórico

16 de outubro de 2007

Cadeira ou Fitball?

Depois de uma reportagem publicada pela revista Visão, de 4 de Outubro de 2007, intitulada Bola Mágica, da autoria de Alexandra Rosa, instalou-se a discussão, entre alguns dos meus colegas designers e ergonomistas, sobre as vantagens e desvantagens de tal equipamento. Por isso, não resisti a publicar este pequeno post dedicado à Fitball.

Nesse artigo, é entrevistada a fisiologista Teresa Branco que é apologista da substituição da cadeira pela Fitball. São, também, discutidos diversos argumentos a favor e contra essa opção. Neste pot vou tentar reforçar alguns desses argumentos e expor o meu ponto de vista sobre este assunto.

Para aqueles que não leram o artigo citado, talvez seja útil começar por explicar o que é, afinal, a Fitball. No artigo da Visão ficamos a saber que as primeiras bolas foram produzidas por Aquilino Cosani, nos anos 60. Mais tarde, por volta de 1965, passaram a ser conhecidas por bolas Suíças porque Susan Klein-Vogelbach, uma instrutora de fitness, as começou a usar como equipamento de fisioterapia. Nos anos 80 começaram a ser usadas, nos EUA, como equipamento para reabilitação e treino de alto rendimento. Por essa data começaram também a ser usadas em Portugal. Muito recentemente, em 2006, nasceu o Instituto Fitball Portugal.

Feita a apresentação da “bola mágica”, passemos à discussão.

Porquê a polémica em torno deste equipamento?

Bom, a polémica surge porque há quem defenda o seu uso como assento de trabalho e sugira que, estas bolas devem substituir as cadeiras que usamos no dia-a-dia. Do outro lado, estão aqueles que dizem que isso é uma estupidez e que estas bolas apenas devem ser usadas como equipamento de fisioterapia e/ou de treino, nunca como um substituto da cadeira clássica.

Vamos rever os argumentos do pró e do contra. Começando pelos argumentos do pró, as vantagens apresentadas estão relacionadas com a instabilidade associada a um assento redondo. Ou seja, quem se sentar na Fitball terá os seus abdominais e dorsais em constante contracção, para manter o equilíbrio. Essa contracção obrigará a uma correcção da postura que, supostamente, assim se manterá mais erecta. Tal postura provocará, também, uma abertura do ângulo entre as coxas e o dorso, aumentando o espaço para acomodação dos órgãos internos, o que irá beneficiar o seu funcionamento, especialmente do estômago e intestinos. A coluna vertebral, em particular os discos intervertebrais, serão muito beneficiados, quer com o não achatamento da curvatura lombar, quer com o movimento do corpo. O aumento da exercitação dos músculos (inclusivamente alguns que não usamos com mais frequência) terá, como efeito paralelo, uma barriga mais lisa, menos flácida e menos volumosa. Ou seja, o ideal para uma silhueta elegante. Argumenta-se ainda que, o facto de o assento ser instável, poderá, eventualmente, promover uma maior alternação entre posturas. O que é, em si, saudável e que poderá significar um aumento do trabalho dinâmico. Que, como é sabido é mais benéfico e menos desgastante do que o estático. Mas, aqui neste ponto, começam as divergências. Talvez não seja assim tão benéfico o uso da bola. Isto porque, se a instabilidade do assento for demasiado grande, acabará por provocar exactamente o contrário do desejado. Isto quer dizer que iremos aumentar a fadiga, associada ao aumento do trabalho estático, porque diversos músculos ficarão permanentemente contraídos, num esforço para manter o corpo suficientemente estável para trabalhar. Com a agravante de não podermos fazer uma pausa, ou micro-pausa, para relaxar as costas num encosto e aliviar, dessa forma, as tensões acumuladas. A mim, parece-me lógico este argumento. Já experimentaram estar, um dia inteiro de trabalho, sem se recostarem no encosto da cadeira? Assim que a fadiga aumenta, acabamos por desistir da postura erecta e temos tendência a inclinar o tronco, curvando as costas, deixando pender a cabeça e aumentando as forças sobre os braços, ante-braços e punhos sobre a mesa. Há ainda outra questão, que se prende com o trabalho com computadores. Algumas pesquisas sugerem que os utilizadores de computadores preferem a postura reclinada para trabalhar. Essa postura é impensável com a Fitball (a não ser com acessórios extra). Outra desvantagem, está na impossibilidade de se regular a altura da bola para fazer o ajuste antropométrico. Uma bola demasiado alta, ou demasiado baixa, será uma catástrofe para o seu utilizador. Já para não falar da dificuldade que será sentar-se na bola com saias justas…

Esta discussão já foi feita a propósito de umas cadeiras “revolucionárias”, com assento inclinado para a frente e apoios para os joelhos, que pretendiam mudar a forma como nos sentamos. Mas que foram consideradas muito desconfortáveis pelos utilizadores.

Na minha modesta opinião, a Fitball não é uma alternativa adequada a uma boa cadeira. Reparem que escrevi, uma boa cadeira e não qualquer cadeira. É que, uma cadeira bem concebida, com bom apoio lombar/dorsal, ajustável nas suas dimensões, com o estofamento certo, feita num material confortável, com apoia-braços, com rodízios/deslizadores, é uma solução difícil de bater. A Fitball jamais a poderá substituir. Poderá ser um acessório interessante, para se ter ali ao lado, e usar esporadicamente. Tão benéfica para a saúde como uma caminhada a meio da manhã ou da tarde.

Podia acabar esta reflexão com uma brincadeira, fazendo uma analogia entre o par Fitball vs cadeira e uma bicicleta vs motocicleta. Não será a bicicleta benéfica para a saúde? Sim, claro. Mas será que ela pode substituir a motocicleta em todas as situações? Não, claro. Aí está… não vamos dizer mal da Fitball mas, também, não vamos exigir-lhe funcionalidades para as quais ela não foi concebida. É o que eu acho…

Site Oficial Fitball Portugal

15 de outubro de 2007

Design and Culture

O Design and Culture será o novo jornal oficial da Design Studies Fórum, publicando 3 números por ano. Será um jornal interdisciplinar, publicado pela Berg e contará com uma revisão feita por especialistas. A edição ficará a cargo de Elizabeth Guffey e dos editores associados Guy Julier, Pekka Korvenmaa e Matt Soar.

O jornal ambiciona explorar as relações complexas, dinâmicas e contingentes que se estabelecem entre o design e os diversos contextos culturais. Serão abarcadas inúmeras vertentes do design, do design amador ao profissional, identificando e discutindo tensões entre actividades de critica, de análise e de trabalho intelectual face aos tradicionais trabalhos realizados em ateliers/estúdio. As relações entre o design e outras disciplinas académicas, como a antropologia, estudos culturais, económicos, geográficos, marketing, gestão, cultura visual, entre outros, também serão discutidas. O jornal procurará, também, encontrar congruência entre as áreas tradicionais da prática do design, gráfico, produto, industrial e ambiental. Ao fazer isto, o jornal propõe-se fortalecer, clarificar e promover o estudo da cultura do design, incluindo a história, a crítica e a prática do design na academia contemporânea.

Todos os interessados poderão submeter os seus trabalhos para publicação. As orientações e instruções para a submissão de manuscritos estão disponíveis AQUI.

14 de outubro de 2007

2º aniversário



O blog “o design e a ergonomia” fez, neste dia 13 de Outubro de 2007, dois anos de existência. Por isso, pareceu-nos ser esta uma boa ocasião para refrescar a imagem do nosso blog. Como habitual, e fazendo jus ao provérbio - “em casa de ferreiro espeto de pau” - ainda não tivemos tempo para completar a transformação. Mas, prometemos ser breves nessa tarefa.


Na falta de comentários dos nossos leitores, os números são a única expressão do que aconteceu neste espaço virtual. Aqui fica uma breve estatística: há um ano atrás tínhamos publicado 411 posts, que tinham merecido 21.513 visitas. Hoje, esse número mais do que duplicou. Desde o nascimento do blog, e até este post, foram publicados 795 posts, com as visitas a saltarem das 21.513 para as 73.426 (51,913 num ano, mais do dobro das do ano de estreia). Só por si, esta parece-nos uma boa razão para dar continuidade a este espaço, mesmo que isso represente menos tempos livres para os seus contribuidores ;-)


Ainda no âmbito da comemoração, deste 2º aniversário, colocámos um pequeno inquérito, on-line, que podem preencher na nossa barra lateral (a sondagem estará aberta para votação até às 00.00h do dia 13.11.2007) e que nos dará uma melhor noção daquilo que vocês pensam sobre este blog.


Por isso, não deixem de o preencher! Se faz favor…

A vossa opinião é muito importante para nós.

Obrigada a todos.


Sem palavras

13 de outubro de 2007

Design quotes

“If we accept graphic design's move into the digital realm, then we must champion new methodologies and theoretical approaches in establishing a history and appropriate critical discourses.”
Teal Triggs.

12 de outubro de 2007

Métodos de avaliação em design #08



> métodos e técnicas:

Uma das estratégias, mais óbvias, para quem pretende avaliar a usabilidade de um produto, é observar o seu uso. A observação é uma técnica objectiva, que faz parte das metodologias da Ergonomia, para a análise da actividade. As técnicas subjectivas já foram abordadas em post anteriores e incluem os questionários e as entrevistas, entre outras. O investigador pode decidir usar estas técnicas individual ou conjuntamente, de acordo com os propósitos do estudo. Porém, para a obtenção, através da observação, de dados rigorosos e válidos é preciso que esta obedeça a regras científicas bem definidas.

A observação podem ser directa, se o investigador estiver presente durante a ocorrência da actividade (observação visual, observação remota por circuito interno de vídeo) em tempo real, ou, indirecta, se a observação for feita pela visualização posterior de vídeos ou fotografias.

A observação pode ser passiva, se o investigador se limitar a observar e registar, passivamente, o desempenho da actividade pelos sujeitos. Este é um processo pouco intrusivo mas, que pode ser muito incompleto. Esta fragilidade poderá ser ultrapassada com o recurso à análise, posterior, de registos vídeo. Por oposição, a observação poderá ser activa, se o investigador participar, conjuntamente com o operador, na actividade. Esta alternativa pode ser muito útil em situações repletas de automatismos, onde os operadores sentem dificuldades em verbalizar a forma como desempenham as suas tarefas. Também é muito útil nos casos onde se procura investigar o trabalho de uma equipa, para compreender a forma como o grupo se organiza e como se comporta.

Nas fases mais embrionárias do estudo, a observação pode ser realizada de forma livre e aberta, para permitir que o investigador se familiarize com a situação. Em alguns casos, a observação pode ser auxiliada por formulários/fichas ou diagramas previamente elaborados. Esta documentação facilitará, sobretudo, o tratamento estatístico, posterior, dos dados recolhidos (frequências, transições, duração, etc.). Normalmente, este procedimento é usado em observações pontuais, efectuadas em momentos pré-definidos e focando aspectos muito específicos da actividade, como as posturas, os movimentos, para detecção de problemas musculo-esqueléticos. As técnicas mais comuns, deste tipo de observação, são o Posturegram [1] ou OWAS [2]. Contudo, estes são processos de validade limitada e muito dependentes da experiência do investigador.

Porém, para quem pretende realizar uma observação sistemática e em tempo real estes procedimentos não são viáveis. Como alternativa, o investigador, pode recorrer ao vídeo. Com alguma facilidade uma tarefa poderá ser registada em vídeo e áudio, para posterior análise laboratorial. Muito embora, o vídeo possa ser uma ferramenta muito útil, especialmente porque pode captar imensa quantidade de informação sem a presença do investigador, é necessário ter alguns cuidados no seu uso.

A observação recorrendo ao vídeo permitirá estudar a forma como as diferenças individuais condicionam a resolução de problemas, quais são os problemas decorrentes de situações de emergência. Também permitirá identificar as condições em que ocorrem os erros, compreender como reagem os trabalhadores sob stress e avaliar as condições responsáveis pelo aparecimento de problemas músculo-esqueléticos. O vídeo permitirá, ainda, a confrontação dos sujeitos observados com o seu comportamento, servindo para auto-avaliação, treino ou formação. O vídeo oferece bastantes garantias e também pode ajudar a evitar enviasementos relativos à avaliação subjectiva.

Contudo, a primeira ressalva, no uso do vídeo, é que este não deve ser o único processo de registo, deve ser sempre complementado com uma observação paralela feita pelo investigador. Existem, também, aspectos éticos a considerar no seu uso, como a liberdade pessoal e a confidencialidade dos dados. Também não podemos ignorar que, o simples facto de os sujeitos se sentirem observados, produzirá modificações nos seus comportamentos, o que poderá provocar distorções nos dados recolhidos.

Independentemente de qual o tipo de observação que se irá escolher, as etapas gerais a percorrer podem ser:

1) Definição dos Objectivos: o que se pretende estudar; qual a hipótese que está em cima da mesa e que queremos testar;

2) Registo da Actividade de Trabalho: como vamos proceder para registar a actividade (formulários, vídeo, áudio, etc.);

3) Definição de Categorias Comportamentais: em que sub-componentes, ou indicadores observáveis, vamos dividir a actividade (ex.: posturas, movimentos, deslocamentos/percursos, transporte de cargas, ângulos de visão, movimentos oculares, comunicações, tempos/frequências, etc.);

4) Quantificação das Frequências de Ocorrência: quais são as variáveis a monitorizar (duração/tempo, frequências, distâncias, etc) e como se expressarão.

Apesar de, comparativamente com técnicas como questionários, entrevistas ou checklists, a observação ser muito popular entre os investigadores, é preciso ponderar cuidadosamente as suas vantagens e desvantagens.

As suas vantagens mais interessantes são:
_ permite a recolha de dados que não seria possível recolher de outra forma;
_ é muito útil numa fase exploratória inicial, onde o investigador procura identificar o problema a observar, facilitando a familiarização com a actividade;
_ permite identificar e comparar diferenças individuais de desempenho;
_ permite a comparação de dados obtidos por outros investigadores e por outros processos.

Algumas das suas desvantagens são:
_ a realização de uma observação em tempo real requer um profissional treinado;
_ os dados recolhidos são muitos e complexos, pelo que, o seu tratamento e análise irão implicar um grande o investimento;
_ a observação directa pode ser uma técnica intrusiva, levando a que comportamento possa ser influenciado pela presença do observador;
_ os dados obtidos podem ser imprecisos, incompletos, inconsistentes ou até impraticáveis;
_ não fornece informação sobre os processos que sustentam, ou estão na génese dos procedimentos humanos, por isso, serão de pouca utilidade em actividades com elevada complexidade cognitiva;
_ os equipamentos usados para recolha de dados podem ser dispendiosos e de aplicação difícil nos locais;

Como tivemos oportunidade de ver, apesar da observação nos permitir recolher imensa informação detalhada, poderá não ser suficiente para compreendermos a globalidade do processo de trabalho que está envolvido. Podemos aumentar a quantidade e qualidade da informação recolhida se usarmos o “think aloud”, ou seja, se estimularmos o sujeito observado a ir falando sobre aquilo que está a fazer. Para terminar, podemos constatar que desenvolvimento de softwares específicos para análise de vídeos, como o “Vídeo Behavior” [3] está a tornar a observação mais eficaz, mais rigorosa e mais atractiva para o investigador.

Referências:
[1] Priel, V.Z.: A numerical den̈ition of posture. Hum. Factors 16, 576–584 (1974)
[2] Karhu, O., Kansi, P., Kuorinka, I.: Correcting working postures in industry: a practical method for analysis. Appl. Ergon. 8(4), 199–201 (1977)
[3] Filgueiras, E. & Rebelo, F. (2007). An Interactive System to Measure the Human Behaviour: An Analysis Model for the Human-Product-Environment Interaction. Proceedings of the 12th International Conference, HCI International 2007. Beijing, China, July 22-27, 2007

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