Nesse artigo, é entrevistada a fisiologista Teresa Branco que é apologista da substituição da cadeira pela Fitball. São, também, discutidos diversos argumentos a favor e contra essa opção. Neste pot vou tentar reforçar alguns desses argumentos e expor o meu ponto de vista sobre este assunto.
Para aqueles que não leram o artigo citado, talvez seja útil começar por explicar o que é, afinal, a Fitball. No artigo da Visão ficamos a saber que as primeiras bolas foram produzidas por Aquilino Cosani, nos anos 60. Mais tarde, por volta de 1965, passaram a ser conhecidas por bolas Suíças porque Susan Klein-Vogelbach, uma instrutora de fitness, as começou a usar como equipamento de fisioterapia. Nos anos 80 começaram a ser usadas, nos EUA, como equipamento para reabilitação e treino de alto rendimento. Por essa data começaram também a ser usadas em Portugal. Muito recentemente, em 2006, nasceu o Instituto Fitball Portugal.
Porquê a polémica em torno deste equipamento?
Bom, a polémica surge porque há quem defenda o seu uso como assento de trabalho e sugira que, estas bolas devem substituir as cadeiras que usamos no dia-a-dia. Do outro lado, estão aqueles que dizem que isso é uma estupidez e que estas bolas apenas devem ser usadas como equipamento de fisioterapia e/ou de treino, nunca como um substituto da cadeira clássica.
Vamos rever os argumentos do pró e do contra. Começando pelos argumentos do pró, as vantagens apresentadas estão relacionadas com a instabilidade associada a um assento redondo. Ou seja, quem se sentar na Fitball terá os seus abdominais e dorsais em constante contracção, para manter o equilíbrio. Essa contracção obrigará a uma correcção da postura que, supostamente, assim se manterá mais erecta. Tal postura provocará, também, uma abertura do ângulo entre as coxas e o dorso, aumentando o espaço para acomodação dos órgãos internos, o que irá beneficiar o seu funcionamento, especialmente do estômago e intestinos. A coluna vertebral, em particular os discos intervertebrais, serão muito beneficiados, quer com o não achatamento da curvatura lombar, quer com o movimento do corpo. O aumento da exercitação dos músculos (inclusivamente alguns que não usamos com mais frequência) terá, como efeito paralelo, uma barriga mais lisa, menos flácida e menos volumosa. Ou seja, o ideal para uma silhueta elegante. Argumenta-se ainda que, o facto de o assento ser instável, poderá, eventualmente, promover uma maior alternação entre posturas. O que é, em si, saudável e que poderá significar um aumento do trabalho dinâmico. Que, como é sabido é mais benéfico e menos desgastante do que o estático. Mas, aqui neste ponto, começam as divergências. Talvez não seja assim tão benéfico o uso da bola. Isto porque, se a instabilidade do assento for demasiado grande, acabará por provocar exactamente o contrário do desejado. Isto quer dizer que iremos aumentar a fadiga, associada ao aumento do trabalho estático, porque diversos músculos ficarão permanentemente contraídos, num esforço para manter o corpo suficientemente estável para trabalhar. Com a agravante de não podermos fazer uma pausa, ou micro-pausa, para relaxar as costas num encosto e aliviar, dessa forma, as tensões acumuladas. A mim, parece-me lógico este argumento. Já experimentaram estar, um dia inteiro de trabalho, sem se recostarem no encosto da cadeira? Assim que a fadiga aumenta, acabamos por desistir da postura erecta e temos tendência a inclinar o tronco, curvando as costas, deixando pender a cabeça e aumentando as forças sobre os braços, ante-braços e punhos sobre a mesa. Há ainda outra questão, que se prende com o trabalho com computadores. Algumas pesquisas sugerem que os utilizadores de computadores preferem a postura reclinada para trabalhar. Essa postura é impensável com a Fitball (a não ser com acessórios extra). Outra desvantagem, está na impossibilidade de se regular a altura da bola para fazer o ajuste antropométrico. Uma bola demasiado alta, ou demasiado baixa, será uma catástrofe para o seu utilizador. Já para não falar da dificuldade que será sentar-se na bola com saias justas…
Esta discussão já foi feita a propósito de umas cadeiras “revolucionárias”, com assento inclinado para a frente e apoios para os joelhos, que pretendiam mudar a forma como nos sentamos. Mas que foram consideradas muito desconfortáveis pelos utilizadores.
2 comentários:
Como Administrador do Instituto Fitball Portugal, agradou-me muito ver o seu post, mostrando atitude crítica em torno do artigo, uma exposição dos assuntos de uma forma clara, assim como a dita discussão que fez parte de si e dos seus colegas designers e ergonomistas. Infelizmente só hoje tive conhecimento desta sua exposição, pois teria sido interessante, a meu ver, uma discussão mais continuada. Quero assim aproveitar para deixar o meu contributo, como participante activo no desenvolvimento do Fitball em Portugal.
O nosso voto face à substituição das cadeiras pela Fitball, não querendo fazer papel de desempate, é claramente… o meio!
Passo a explicar, e pegando numas das suas questões no final do seu texto “Mas será que ela pode substituir a motocicleta em todas as situações”. Eu creio que a situação não se deverá colocar tão radicalmente no sentido de substituir por completo as cadeiras pela Fitball. Talvez tenha ficado essa ideia no artigo, mas creio que o objectivo não deveria ser esse, muito embora já se sabe que quem escreve acrescenta sempre a sua visão pessoal.
De facto, e sabendo que as ditas ”dores nas costas” têm origem na falta de mobilidade e de estrutura muscular na coluna vertebral (excepção feita a quadros clínicos de traumatismo, degeneração de tecidos, …), podemos colocar o “exercício” como a melhor solução para combater este, cada vez maior, flagelo de uma sociedade “sentada”.
É assim que aparece com toda a legitimidade a Fitballl. A tal instabilidade, não só pelo assento ser redondo como escreveu no post, mas também pela distância do ponto de apoio ao solo, e da superfície de contacto com o solo ser reduzida e esta sim, instável, provocam no corpo todo uma solicitação muscular e neural, que em tudo beneficiará o aumento da mobilidade e musculatura de suporte do tronco.
Quanto ao trabalho dinâmico ser mais benéfico e menos desgastante que o estático, aí talvez não estaremos completamente de acordo. O benéfico é relativo, pois dependerá do objectivo final. Isto é, se estivermos a falar objectivamente de estar sentado horas a fio numa cadeira (mesmo que muito boa) o trabalho isométrico deve então ser privilegiado. Logo interessará dotar os grupos musculares de suporte (os mais profundos) e superficiais da capacidade de resisitir a esforços isométricos de longa duração. Os exercícios dinâmicos neste quadro de benefícios interessarão apenas treinar com dois objectivos: possibilidade de aumentar a carga (aumentando a capacidade de resistir a esforços maiores e mais prolongados), assim como “trabalhar” o tronco em diferentes graus de movimento.
Quanto ao desgastante.. ora todos sabemos que o esforço isométrico tem o problema de, ao impedir a circulação (de nutrientes e remoção de “lixo”) implica um grande esforço muscular, assim como cardíaco. Para além, atinge-se rapidamente a fadiga ao nível da placa motora, que impossibilita a continuidade dos estímulos. Mas é por isso mesmo que o treino em isometria deve ser prescrito com períodos de esforço reduzidos, compensando com períodos de repouso suficientemente prolongados. Assim, a meu ver, o problema do trabalho estático ser mais desgastante que o trabalho dinâmico deve-se sobretudo à má prescrição do treino!
Mas o mais curioso com o Fitball, e relacionando com os conceitos genéricos do Treino Funcional, é que se consegue com bastante eficácia treinar isometria e dinâmico ao mesmo tempo… e isto porque a superfície é instável, logo o movimento é sempre promovido no trabalho com Fitball.
Assim, surgem as nossas indicações (repare que generalistas, pois cada caso é um caso) de que se deve substituir a cadeira pela Fitball por breves períodos do dia, e de uma forma progressiva, “repousando” desse esforço na cadeira. De facto, pensamos que a utilização excessiva (leia-se “demasiado” prolongada) da Fitball pode originar os tais problemas que tão bem refere, como desequilíbrios funcionais entre a parede anterior e posterior do tronco, o que seria pior ainda.
Logo aconselhamos a sua utilização, mas controlada. O problema estará neste controlo, o que pensamos ficar resolvido durante o próximo ano quando inciarmos a nossa campanha de utilização da Fitball (quer a bola como os outros produtos associados nosso conceito Fitball) em prol de uma vida mais saudável no trabalho, com indicações metodológicas e sugestões de exercícios básicos.
Mais faremos quando terminarmos o nosso primeiro trabalho de investigação, que já está em curso, sob o tema “controlo postural” onde pensamos concluir que uma determinada série de exercícios e metodologia, influenciará quer a postura quer a tolerância à fadiga em posições habituais, tais como a sentada.
Mais uma vez, fico muito contente pelo seu post… em todos os sentidos!
Gostaria de começar por agradecer o seu comentário que, considero muito esclarecedor e completo. Ficamos muito satisfeitos por o nosso post ter sido do vosso agrado. A nossa intenção é promover a discussão de assuntos, relacionáveis com design e/ou ergonomia, que consideramos serem pertinentes para a prática destas duas profissões e para os utilizadores em geral. Daí, a polémica em torno da Fitball ter merecido a nossa atenção. Acredito que, depois desta troca de opiniões, os nossos leitores ficarão muito mais esclarecidos sobre as vantagens do uso da Fitball.
Eu partilho, em parte, a sua posição de "meio termo" relativamente à substituição da cadeira pela Fitball. Não porque não lhe reconheça os benefícios, bem enumerados por si, mas porque acho que, em vez de recorremos a 2 produtos distintos (cadeira e Fitball), devemos ambicionar conceber um único que consiga responder a todas as questões associadas ao sentar (mas talvez seja um objectivo utópico…). Porém, o facto de termos 2 produtos cria dificuldades operacionais práticas, como por exemplo, a falta de espaço para manter e alternar entre os 2 produtos.
Para além disso, não haveria forma de controlar, individualmente, a utilização regrada/ajustada desses produtos que, como bem refere é essencial neste caso. E esta é uma questão muito complicada de resolver. Tomemos, por exemplo, o facto de sabermos que, grande parte dos utilizadores não é capaz de ajustar as suas cadeiras (que são reguláveis) à sua atropometria. Nesse sentido, tenho dúvidas que uma campanha, mesmo que bem concebida, consiga informar os utilizadores como será necessário.
De qualquer forma, vamos manter-nos atentos ao vosso trabalho de promoção da Fitball pois, estamos interessados em tudo o que possa ajudar a promover uma vida mais saudável e melhores condições de trabalho.
Obrigada.
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