Nas aulas em que falamos sobre design de interacção, interfaces e usabilidade, oiço comentários sobre erros provocados por diferentes "layouts" dos teclados. Os exemplos paradigmáticos citados são, quase sempre, os teclados dos telefones e das máquinas calculadoras. O problema agrava-se, por envolver dinheiro, com máquinas automáticas como, por exemplo, os Multibancos (ATM's), ou, os terminais de pagamento nas lojas.
Questionamos, então, a razão de ser dessa disparidade, ou, falta de consistência. Porque razão os teclados, neste caso os numéricos, não são todos iguais?
Imagem 1 - teclado de calculadora
Imagem 2 - teclado de telefone
Imagem 3 - esquema do teclado do multibanco
A resposta inclui razões como, por exemplo, a evolução natural dos produtos, diferentes fabricantes, diferentes culturas, ou, ausência de testes com utilizadores..
Ao longo de anos de evolução as máquinas, que usamos no nosso quotidiano, foram sendo sujeitas a um processo de estandardização. Graças a isso fomos ganhando hábitos, pela força da convivência, que fizeram com que determinadas soluções ficassem gravadas na nossa memória. Por vezes, essas "imagens" assumem uma força tal que ficam "cristalizadas" nas nossas mentes. Esse processo pode ser designado por criação de um estereótipo.
Este fenómeno é útil ao utilizador, sobretudo em situações onde hajam poucos recursos cognitivos disponíveis, porque, nessa situação, ele poderá trabalhar em modo automático. Isto é, o estereótipo requer pouco, ou nenhum, controlo cognitivo consciente (atenção e raciocínio). Claro que, este processo, também tem aspectos negativos...
O reverso da medalha é que, depois de adquirido, o estereótipo torna-se tão forte que é muito difícil aceitar novos "layouts", ou, arranjos espaciais. Adicionalmente, o desrespeito por esses estereótipos, ainda que justificado pela necessidade de inovação, poderá confundir e irritar o utilizador, ou, fazer aumentar o tempo e os erros na execução das tarefas. Devemos, também, considerar que em situações de pânico, urgência, ou, elevada carga cognitiva o esteriótipo prevalecerá e o indivíduo poderá cometer erros, por não detectar a presença de um "layout" diferente daquele que seria expectável, face aos seus hábitos.
Mas, no caso em questão, dos teclados calculadoras/telefones, os Laboratórios Bell, da AT&T, investigaram diferentes alternativas de teclados. Depois desse estudo o layout do telefone acabou por ser aplicado, mesmo sendo diferente do da calculadora, que já era anterior e bastante robusto, porque se verificou que implicava menos erros na digitação de dados. Isso apesar de apresentar uma taxa de digitação mais baixa (mais lento) do que o da calculadora.
Foi, sobretudo, esta relação difícil, entre vantagens e desvantagens, que levou à adopção destes dois "layouts"... Portanto, caros utilizadores, cuidado no uso dos teclados, especialmente agora nesta época de grande consumismo... para não digitarem números errados!...
Referências:
Conrad, R., & Hull, A. J. (1968). The Preferred Layout for Numeral Data-Entry Keysets. Ergonomics, 11(2), 165 - 173.
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1 comentário:
Parabéns pelo blog que já acompanho há algum tempo.
Estou a fazer um mestrado em design de comunicação. Interessa-me que o âmbito da minha dissertação se centre no conceito de "wayfinding" aplicado à sinalética, numa perspectiva de design inclusivo. Gostaria de puder contactar consigo no sentido de explicar melhor o que pretendo fazer, e para saber se é possível ter alguma orientação da sua parte.
Deixo o meu email e desde já agradeço a atenção que o meu contacto possa merecer.
inesreves@gmail.com
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