Lipovetsky, Gilles (1988). A era do vazio. Ensaio sobre o individualismo contemporâneo. Lisboa: Relógio D.’água.
Li este livro quando ainda era estudante e adorei. Agora, quase 20 anos depois, a propósito da vinda de Lipovetsky a Portugal, para participar na conferência “A busca da felicidade", que divulguei ontem, reli-o e voltei a adorar. Espantosamente, continua tão actual como antes. É uma análise muitíssimo interessante da nossa sociedade. O autor fala-nos das novas atitudes, surgidas nas sociedades ocidentais, onde impera a apatia, a indiferença, o narcisismo e das novas relações sociais.
Para Lipovetsky, (…) “a recessão presente, a crise energética, a consciência ecológica não são o toque a finados da sociedade de consumo: estamos destinados a consumir, ainda que doutro modo, cada vez mais objectos e mais informações, desportos e viagens, formação e relações, música e cuidados médicos. É isso a sociedade pós-moderna: não o para além do consumo, mas a sua apoteose, a sua extensão à esfera privada, à imagem e ao devir do ego chamado a conhecer o destino da obsolescência acelerada, da mobilidade, da desestabilização. (…) A cultura pós-moderna é descentrada e heteróclita, materialista e psi, porno e discreta, inovadora e retro, consumista e ecologista, sofisticada e espontânea, espectacular e criativa; e o futuro não terá, sem dúvida, que decidir em favor de uma destas tendências, mas, pelo contrário, desenvolverá as lógicas duais, a co-presença flexível das antinomias (…)”.
Tanto quanto eu posso avaliar, passaram 2 décadas e, esta análise deixou de ser uma antevisão para ser um facto consumado. Espantoso!...
Sobre o autor:
Gilles Lipovetsky • Filósofo, Professor na Universidade de Grenoble (França)
Autor com uma extensa obra publicada (A Era do Vazio; O Luxo Eterno, entre outros) o seu último ensaio é uma reflexão sobre a sociedade de consumo intitulada Le Bonheur Paradoxal. Considerando que se entrou naquilo que o autor considera a era do “hiperconsumo”, o livro analisa a relação “paradoxal” que os indivíduos estabelecem hoje com um universo dominado pelo mercado onde mesmo a esfera do íntimo não lhe parece escapar.
Vale a pena ler e ouvir este autor…
1 comentário:
A Era do Vazio foi um livro quase profético, dizer que continua actual é uma singela constatação do óbvio... como diria alguém quem pode? iPod... retrato narcísico por excelência e acompanhado de mundo sonoro privativo.
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