17 de novembro de 2005

Bad design: fritadeira

Pela primeira vez, neste blog, temos um post proposto por uma aluna de design. A Helena Ferreira trouxe-nos uma fritadeira que é um verdadeiro exemplo de mau design. Podemos constatar, pelas fotos que apresenta, que são diversos e graves os erros existentes, tal como passamos a identificar:

1 – O botão de comando possui 3 posições específicas, para três tipos de fritura, mas essas características são ilustradas unicamente com pictogramas. Como sabemos, os pictogramas não são uma solução universal, pelo que, seria útil a transmissão redundante da informação através de texto (no caso de dúvidas, só nos resta consultar o manual de instruções). Este botão não inclui a função “on-off, que também não existe em mais lado algum, pelo que a fritadeira apenas pode ser ligada e desligada com o cabo de corrente. Seria desejável a introdução de um botão, ou uma posição, para esta função.

2, 3, 4 – A tampa possui uma pequena reentrância, na frente, para a sua abertura mas, devido à sua reduzida dimensão, torna-se muito difícil o seu uso (sobretudo para aqueles com problemas articulares, pouca coordenação motora ou mãos grandes). Ao abrir a tampa, usando esta pega frontal, o braço do utilizador fica exposto directamente aos vapores escaldantes do óleo, podendo sofrer queimaduras.

5 – Existe uma pega, nas traseiras da fritadeira, que supostamente deve ser o sistema de abertura da tampa preferido (para evitar o referido nos pontos anteriores). Porém, aquilo que se constata é que esta pega não possui dimensão suficiente para funcionar correctamente. Para além disso, estando colocada atrás da fritadeira obriga a rodar o aparelho para lhe aceder, ou então, ao uso do aparelho posicionado lateralmente na bancada.

6 – A tampa possui umas ranhuras para saída do vapor do óleo, mas não permite qualquer visualização do seu interior, pelo que, para acompanhar a evolução da fritura temos que abrir a tampa.

7 – O contentor do óleo não é destacável da fritadeira, pelo que as tarefas de vazar o óleo usado e lavar a cuba ficam seriamente comprometidas.

8 – Não existe qualquer encaixe que permita colocar o cesto em suspensão, para o encher ou para escorrer o óleo dos alimentos fritos.

Como é possível um aparelho destes ter sido comercializado?...Temos a obrigação de desenvolver o nosso espírito crítico e capacidade de análise, como designers, ou como consumidores, para que não desperdicemos o nosso dinheiro em objectos que nos aborrecem, nos colocam em perigo e nos fazem sentir defraudados.
Recomenda-se, ao fabricante, que contrate, URGENTEMENTE, um bom designer!!! (posso recomendar alguns).
Obrigado Helena por nos teres dado esta oportunidade... pois este é um exercício que se deve fazer diariamente...

4 comentários:

Anónimo disse...

É pena que existam produtos com tais deficiências e que mesmo assim sejam comercializados. O comprador é muitas das vezes enganado por falta de informação e conhecimento acerca da qualidade e características favoráveis ao produto. Quando o consumidor investe o seu dinheiro num novo produto já espera que esse venha com uma certa qualidade de utilização e funcionamento, o problema é que ao utiliza-lo verifica que esses problemas existem e simplesmente põe de parte o aparelho / produto, no entanto o seu dinheiro foi gasto e não usufruiu do seu investimento. Neste caso não só perde o comprador como também a marca pois na próxima compra o utilizador não voltará a adquirir produtos da mesma marca / fabricante. Tem que haver um cuidado especial para com o consumidor pois é ele que vai tirar proveito do produto e é por ele que a empresa / designer vai ser realmente avaliado, só a partir da satisfação do consumidor é que a empresa / designer poderá ter sucesso.
Helena Ferreira

Atom Ant disse...

Grande parte da responsabilidade, por situações idênticas a esta, pertence aos designers. É desculpável que o fabricante e o consumidor sejam leigos em questões do design e da ergonomia (e por isso sejam enganados), mas é indamissível que o designer também o seja! Nós, profissionais do design, também temos responsabilidades sociais, morais, éticas, entre outras, que não podemos deitar para o lado... Pensem nisso.

Carlixa disse...

Aí está um bom exemplo de má usabilidade... para fritadeira pior é impossível... isto para não entras nas questões relacionadas com a ergonomia e segurança para o próprio utilizador.

Ergonomistas e designers colaborem…

Já agora alguém sabe a marca e modelo do dito produto?

Atom Ant disse...

A colaboração entre design e ergonomia é fundamental para o sucesso dos produtos!...