13 de agosto de 2008

Sobre o AHFEI 2008 # 1

Tal como havia prometido vou iniciar uma série de “post” dedicados ao Congresso AHFEI 2008. O objectivo é divulgar e comentar alguns dos trabalhos que tive oportunidade de assistir.
Como é habitual, nestes eventos, decorreram diversas sessões em paralelo o que obrigou os participantes a uma apertada selecção. Por essa razão só assisti às sessões dedicadas ao tema em que estou a trabalhar – “Warnings”.

Sessão_Forensic Symposium: Case Studies in Forensic Human Factors and Ergonomics



# When is a warnings case not a warnings case?
autores: I. Zackowitz & A. Vredenburg, USA

Este artigo descreve 2 casos judiciais, envolvendo incêndios, sem feridos, onde os queixosos alegaram que os sinistros se deveram a falhas, por parte dos fabricantes do equipamento, ao nível dos avisos de segurança. Consultores em ergonomia, especialistas nesta área, foram requisitados para avaliar se, efectivamente, os sinistros se deveram a uma deficiente comunicação do perigo.
Um caso relatava uma situação de um incêndio, originado numa máquina de secar, de um campus universitário, que acabou por se propagar até ao restaurante e, um outro, um incêndio resultante do aquecimento de canos gelados num maçarico.
Os especialistas concluíram que os avisos, embora importantes para a segurança pública, nem sempre são relevantes para o comportamento e que, nos casos relatados, os avisos não foram o factor causal associado aos incidentes.

# Case study: Death by roller coaster
autor: K. Nemire, USA

Este artigo relata a análise de um acidente mortal numa montanha-russa. Durante a viagem, na montanha-russa, o chapéu da esposa do acidentado caiu. No final do percurso, o indivíduo foi tentar recuperar o chapéu tendo, para isso, caminhado livremente por entre e debaixo da estrutura. Nessa altura foi atingido, na cabeça, por um pé de outro utilizador do equipamento em viagem. Este último sofreu graves lesões na perna e pé.
Uma análise ergonómica ao sucedido revelou que o comportamento da vitima mortal não foi negligente e/ou irresponsável, como inicialmente se pensou e que o perigo não era óbvio. A análise revelou, ainda, que o parque de diversões apresentava diversas falhas de segurança. Os avisos de segurança afixados, no equipamento, não se revelaram suficientes/adequados para evitar o comportamento que levou ao acidente.

# Who turned off the lights?
autores: A. Vredenburg & I. Zackowitz, USA

Este artigo descreve um caso jurídico que envolveu aspectos do design ambiental, em residências para idosos. O acidente em questão está relacionado com o temporizador que desliga, automaticamente, as luzes das instalações sanitárias, ao fim de um determinado tempo sem detectar movimento. Às escuras, dentro da casa de banho, uma idosa tropeçou e fracturou a anca. O estudo conclui que, no projecto do espaço, não foi adoptada uma postura de design inclusivo e que as características do utilizadores (idosos e pessoas com limitações sensoriais/motoras) não foram respeitadas.

# Rear-end crashes into farm equipment
autor: R. Mortimer, USA

As estatísticas revelam a gravidade dos acidentes onde há colisões na traseira de outros veículos. Este artigo discute alguns dos factores perceptivos envolvidos neste tipo de acidentes e relata um caso onde uma carrinha colidiu, durante a noite, com um arado atrelado a um veículo agrícola. As conclusões apontam para causas como a diferença de velocidade entre veículos, a sujidade acumulada nas luzes de aviso e reflectores do tractor e o encandeamento provocado pelas luzes de veículos a circular na direcção contrária.

# Human factors/ergonomics (HFE) issues re: an automated marine navigation system: A case of an auto-pilot defect, and/or one of human pilot error?
autores: D. Lenorovitz & E. Karnes, USA

Este artigo relata um caso em que um barco colidiu com uma plataforma extracção de petróleo em alto mar, provocando elevados danos materiais e alguns feridos. Os queixosos argumentam que o acidente se deveu a um problema de funcionamento do sistema de navegação marítimo (o piloto automático), que têm um componente magnético que foi afectado pela influência da proximidade de estruturas de metal. Os envolvidos reclamam que este perigo não é óbvio e que não foram devidamente alertados para esta possibilidade.
Os especialistas, chamados a investigar o caso, concluíram que o acidente se deveu a comportamento negligente do piloto e não a falha no sistema de navegação. A informação de segurança encontrada, embora não seja um exemplo a seguir, não pode ser responsabilizada.


> Nos EUA é frequente e fácil a instauração de processos/queixas, nos tribunais, em torno de acidentes (e muitas outras situações). Isso faz com que os fabricantes se preocupem com a qualidade das informações de segurança, que colocam ao dispor dos utilizadores, e, os especialistas tenham “casos” para trabalhar (e ganhar algum dinheiro). Como consequência, aumentam as hipóteses de trabalho para quem está envolvido na concepção/investigação deste tipo de informações, nomeadamente, os designers gráficos e de comunicação. Mas, como tão bem sabemos, em Portugal, onde o sistema judicial está a cair de maduro, nada disto parece acontecer... Muito raramente acontece um ergonomista, ou, um designer serem chamados a depor em tribunal para avaliar a qualidade de um produto…ou falta dela ;-)
É pena pois, alguns casos, quase podem ser considerados crime!...

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