Numa embalagem de sabonete liquido, à venda em Portugal, está aplicado o seguinte rótulo:
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Fig. 1. - rótulo aplicado na embalagem de sabonete liquido
Uma leitura atenta permite encontrar algumas informações que são, no mínimo, contraditórias e preocupantes.
Vejamos.
Primeiro, as vantagens...
(...)"limpa e protege as suas mãos, eliminando 99,9% das bactérias. A sua fórmula enriquecida com algodão e camomila deixa as mãos suaves e nutridas. Dermatologicamente testado. (...)"
Depois, atenção, os riscos...
(...) "Risco de lesões oculares graves (...) Pode desencadear reacção alérgica. (...) Manter fora do alcance das crianças. Evitar o contacto com os olhos (...)"
e... mais surpreendente ainda...
(...)"Usar equipamento protector para olhos/face (...)"
A reforçar os riscos inerentes... o tal símbolo de irritante.
Mas, estamos a falar de um sabonete líquido ou do quê?!?!?
Então, quando for lavar as mãos eu tenho que usar óculos, máscara e sabe-se lá mais o quê ???
E não posso lavar a cara com o sabonete, sob pena de sofrer danos nas mucosas???
E as crianças, que devem lavar as mãos com frequência elevada, devem ser afastadas do sabonete???...
Este é um caso típico de perigo oculto. Isto é, um produto cujo perigo não é óbvio, nem evidente, para os seus utilizadores. Isto é ainda mais complicado porque é pouco frequente e pouquíssimo expectável que, uma substância usada na higiene diária, possa provocar graves lesões ou danos para a saúde.
Tomando este facto em consideração, o uso do aviso pode ser, em parte, compreensível e justificável. Porém, dado o significativo perigo potencial envolvido, essa informação deveria estar muito mais explicita e visível do que está de facto. Por exemplo, devia estar aplicada na parte da frente da embalagem e não atrás...
Para além do ridículo e caricato, desta situação, o mais preocupante é o efeito perverso que tem sobre os comportamentos dos utilizadores.
Uma parte importante da vontade/intenção de adoptar um comportamento adequado, entenda-se consonante com o aviso (contido no rótulo), é constituida por conhecimentos e experiências anteriores. Mas, esses conhecimentos podem ser enviesados pela exposição indevida a maus avisos, ou, a avisos aplicados de forma indevida e desajustada. Como acontece, a meu ver, nesta situação.
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Fig. 2. símbolo de "Irritante" aplicado na embalagem de lixívia (esq) e no sabonete (dit).
O problema surge porque, ao conviver com um sinal de perigo aplicado num produto que deve ser inócuo, o utilizador vai formar uma crença, errada, de que nem sempre este símbolo implica o nível de risco que é suposto. Ou seja, no futuro, quando confrontado com o mesmo símbolo, noutro qualquer contexto, ele vai achar que são baixas as probabilidades de sofrer as consequências enunciadas pelo símbolo...
Daí, a um comportamento negligente, é um pequeno passo.
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