5 de abril de 2007

Ainda sobre a caça à factura

Hoje ao almoço, numa animada troca de impressões, entre colegas, chegámos a conclusão que, muito provavelmente, a campanha do Ministério das Finanças (ver post de ontem) irá sofrer o efeito de boomerang.

Neste contexto, o efeito boomerang ocorre em resposta à tentativa de persuasão para mudança de uma atitude. Ou seja, a força exercida para mudar determinada atitude poderá desencadear uma força de sentido contrário de intensidade semelhante. A probabilidade disto ocorrer é tanto maior, quanto maior for a sensação de manipulação transmitida...


Vejamos, o que está em causa, nesta campanha, é uma mudança de atitude face ao pagamento de impostos. Aquilo que se ambiciona, de facto, com esta campanha, não é apenas incentivar o cidadão a pedir a factura, mas sim, mudar a sua atitude face ao dever de pagar impostos. Para facilitar este processo é incluído um incentivo dizendo que, se todos pagarem os seus impostos, cada um de nós pagará menos. Porém, como este incentivo se revela vago, intangível e até mesmo falacioso, talvez não tenha força suficiente para persuadir o vulgar cidadão (que acha que paga demais). Então, como complemento, tenta-se a estratégia da dissonância cognitiva dizendo que, facturar faz o país avançar. Ou seja, tenta-se passar a ideia que, se o país não avança, a culpa é de quem não exige a factura. Teoricamente, ninguém quererá assumir tal culpa. Na realidade isso não é assim tão simples. Pois, sabemos que, perante o desconforto associado ao estado de dissonância cognitiva, as pessoas irão fazer o possível para eliminar as razões que provocam esse sofrimento. E poderão fugir, desse estado inconsistente, recorrendo a 3 estratégias típicas:

a) reduzindo a importância da dissonância: seu eu não pedir uma factura não é muito grave porque os outros pedem por mim;

b) adicionando um pensamento consonante: acho que esta campanha me está a manipular e é por isso que eu não peço factura;

c) eliminando a dissonância: eu ajudo o país contribuindo de outra forma qualquer, por isso, não faz mal não pedir a factura.


Posto isto, para que a campanha tenha força suficiente, para ultrapassar este difícil obstáculo que são as atitudes e crenças instaladas, face aos impostos e face ao estado, ela teria que ser muito forte a diversos níveis: ao nível da credibilidade associada à fonte (ministério das finanças); ao nível da clareza da mensagem; ao nível da força de persuasão (incentivos); ao nível da coerência entre todos os meios envolvidos na campanha; ao nível das variáveis intrínsecas dos suportes (design), entre outras.

Infelizmente, como se pode perceber, ela é fraca na maioria destes aspectos, assim, espera-se o pior!...

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