4 de abril de 2007

Caça à factura


O Ministério das Finanças Português está a desenvolver uma campanha publicitária que visa diminuir a fuga ao fisco. A estratégia adoptada passa por tornar cada cidadão numa espécie de cobrador de impostos. Supostamente, se todos nós passarmos a pedir factura, pelos bens e serviços pagos, haverá menos fuga aos impostos. Digo supostamente porque tenho dúvidas sobre a eficácia desta estratégia. Com certeza haverá muitas outras formas, bem mais sofisticadas, de não pagar impostos do que não passar uma factura. Eu acho que, os grandes agentes financeiros, aqueles onde a fuga pode ser significativa, não serão afectados por este tipo de campanhas. Mas, eu até sou apoiante da moralização da sociedade, acho que devemos cumprir com a nossa obrigação, pagar os impostos e pedir facturas (para que todos paguem).

Contudo, a ideia deste post não é debater os problemas das finanças portuguesas, a intenção é analisar a qualidade da campanha que o Ministério das Finanças lançou.

Devo confessar que tive uma reacção muito estúpida a este material gráfico. A primeira vez que olhei para isto, na forma de cartaz e não de folheto (como aqui está ilustrado), pareceu-me que era alguém que tinha desaparecido e que aquilo era um cartaz com a sua fotografia… Devo andar a ver muitas séries de tv. Também me ocorreu que parecia a secção da necrologia dos jornais, informando da morte de alguém conhecido… Sei que em alguns países, como no Brasil, imprimem as fotos dos desaparecidos no verso das facturas, ou nas embalagens dos produtos, para facilitar a divulgação da imagem das pessoas. Pensei que essa estratégia tinha chegado cá.

Mas afinal, qual a razão para incluir fotografias de pessoas nesta réplica de uma factura? A intenção será humanizar a campanha? Estarão, os designers, a tentar dizer que, até mesmo as jovens (só mulheres???) e os jovens casais enamorados pedem factura? Se essa era a intenção, duvido que funcione, sobretudo por causa da má qualidade da imagem impressa… O mais certo foi usarem a fotografia porque tinham um espaço em branco para preencher e não sabiam o que lá colocar… não iam por uma réplica de uma factura do pequeno-almoço ;)

Também temos que falar das cores usadas que, de estimulante não têm nada. Se a intenção é mudar atitudes, não é com aquele azul, branco e preto que isso se consegue. Curiosamente, as cores escolhidas transmitem-me, na perfeição, o sentimento que eu nutro pelo estado português... frio, impessoal, burocrático, antipático, aborrecido, enfadonho, etc. O lettering acompanha a estratégia de aborrecimento, mecânico, impessoal, frio. Pelo menos é coerente com a má qualidade! E falta, ainda, falar daquele símbolo, do dedo no ar, que já vi colado, por aí, nas paredes dos cafés e que lembra o apontar de uma pistola, ou algo pior (se bem que aqui é usado o indicador e não o dedo grande). Ainda assim, é um gesto feio, agressivo…

Conclusão: é um mau material, muito mau!
Estou convencida que vai ser um fracasso e que, todos os euros
gastos (pagos com os impostos que se quer cobrar) vão ser deitados fora... :(
Gostava muito de saber, porque razão não se investe em qualidade?!
Com tanto talento, que existe em Portugal, não receberam propostas melhores do que estas?

Eu peço factura mas, não é que me sinta estimulada por esta campanha :(
Espero que, no mínimo, os designers envolvidos tenham passado factura!...

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