Tendo atravessado a história da humanidade, até aos dias de hoje, o Carnaval surge-nos como uma oportunidade de desrespeitar as regras e normas estabelecidas, subverter e anular os padrões, dar azo a pensamentos e comportamentos libertinos, enfim, virar o mundo ás avessas sem sofrer as consequências. Porém, mesmo com este enorme potencial e energia criativos, o Carnaval actual, em vez de se constituir como uma oportunidade de libertação e de inspiração, surge cada vez mais pobre, triste, desprovido de sentido, massificado, vítima de uma sociedade global e capitalista. Cobrindo, com a sua saia, o negócio das fantasias, das caraças made in China, que põem em perigo os seus utilizadores mas são baratas, das escolas de samba made in Portugal, e dos deprimentes e ensurdecedores trios eléctricos. Aqui e ali ainda se mantém o hábito, salutar, da crítica pública, sobretudo à classe politica, mas, a maioria dos festejos é apenas uma manifestação triste, amarga, das frustrações pessoais e profissionais de um povo pobre e deprimido. O que se passa com o nosso imaginário, que se deixa levar pelos hábitos e costumes vindos de outros povos, preferindo os corpos nus, ainda que debaixo de grandes chuvadas e frio intenso, às manifestações genuínas da nossa cultura? Talvez seja mais um exemplo da triste perca da identidade nacional...
Eu gostava que o Carnaval fosse aproveitado para ensinar os miúdos a reaproveitar materiais usados, estimulando a criatividade e a imaginação na construção das suas próprias fantasias. Gostava que o Carnaval fosse usado para dignificar e promover rituais e tradições ancestrais, que tornam cada povo único. Gostava que o Carnaval se tornasse um factor de atracção e não, apenas, um escape para as angústias da vida...
Gostava que o Carnaval fosse mais como os magníficos exemplos de arte popular dos Caretos de Podence (Macedo de Cavaleiros) e de Lazarim (Lamego), o Enterro do Pai Velho do Lindoso (Ponte da Barca) e os Cardadores do Vale de Ílhavo (Ílhavo), entre outros.
Os Caretos de Podence
Os Caretos de Lazarim
Os Caretos de Ousilhão
Os Cardadores do Vale de ìlhavo
3 comentários:
A propósito do Carnaval, são várias as escolas que investem na reutilização de materiais. Talvez venha-se a assistir a uma redução de actividades, dado que exige um grande trabalho da parte dos educadores/professores e actualmente há uma grande desmotivação.
É uma pena que se invista pouco nessa importante tarefa de ensinar os miúdos a reciclar, a reaproveitar, a imaginar e criar soluções a partir do "lixo". Esse esforço não deveria ser apenas dos professores, devia ser, também, das famílias...
Eu entendo a desmotivação de todos os professores e partilho, por experiência pessoal, o sentimento que reina nas escolas mas, se desistimos como será o país de amanhã?... se hoje já pouco temos para nos dignificar... :-(
Concordo com a atom ant, em absoluto!
Já agora não posso deixar escapar as incorrecções à língua portuguesa...quando a recicloteca diz: "talvez venha-se a assistir..." deveria certamente querer dizer: talvez se venha a assistir..., não?
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