5 de fevereiro de 2008

O Carnaval tradicional

As origens do Carnaval remontam a antigos rituais, da Antiguidade, associados ao fim do Inverno, início da Primavera e do novo ano agrícola. São conhecidas as ligações entre as celebrações do Carnaval e diversas festas em honra de deuses como Ísis, Saturno, Baco, Dionísio e Luperco, o deus dos pastores e protector dos rebanhos, entre outras. Comum a todas estas celebrações é a quebra, temporária, das regras e da ordem estabelecidas nas sociedades. Em Roma, durante os 3 dias das festas, os escravos tomavam o lugar dos amos, vestiam-se como eles e satirizavam do seu modo de vida. Muitos rituais incluíam o uso de máscaras e de trajes, danças e cortejos mais ou menos frenéticos e uma ingestão, pouco saudável, de carne, daí, o nome Carnaval...

Em Portugal, uma das primeiras referências escritas ao Entrudo remonta ao reinado de D. Afonso III, num documento de 1252. O Carnaval de cariz cristão terá começado no Sec. XVI, constituindo-se como um período de excesso para preparar, mentes e corpos, para o rigor da Quaresma que lhe sucede de imediato.


Tendo atravessado a história da humanidade, até aos dias de hoje, o Carnaval surge-nos como uma oportunidade de desrespeitar as regras e normas estabelecidas, subverter e anular os padrões, dar azo a pensamentos e comportamentos libertinos, enfim, virar o mundo ás avessas sem sofrer as consequências. Porém, mesmo com este enorme potencial e energia criativos, o Carnaval actual, em vez de se constituir como uma oportunidade de libertação e de inspiração, surge cada vez mais pobre, triste, desprovido de sentido, massificado, vítima de uma sociedade global e capitalista. Cobrindo, com a sua saia, o negócio das fantasias, das caraças made in China, que põem em perigo os seus utilizadores mas são baratas, das escolas de samba made in Portugal, e dos deprimentes e ensurdecedores trios eléctricos. Aqui e ali ainda se mantém o hábito, salutar, da crítica pública, sobretudo à classe politica, mas, a maioria dos festejos é apenas uma manifestação triste, amarga, das frustrações pessoais e profissionais de um povo pobre e deprimido. O que se passa com o nosso imaginário, que se deixa levar pelos hábitos e costumes vindos de outros povos, preferindo os corpos nus, ainda que debaixo de grandes chuvadas e frio intenso, às manifestações genuínas da nossa cultura? Talvez seja mais um exemplo da triste perca da identidade nacional...


Eu gostava que o Carnaval fosse aproveitado para ensinar os miúdos a reaproveitar materiais usados, estimulando a criatividade e a imaginação na construção das suas próprias fantasias. Gostava que o Carnaval fosse usado para dignificar e promover rituais e tradições ancestrais, que tornam cada povo único. Gostava que o Carnaval se tornasse um factor de atracção e não, apenas, um escape para as angústias da vida...


Gostava que o Carnaval fosse mais como os magníficos exemplos de arte popular dos Caretos de Podence (Macedo de Cavaleiros) e de Lazarim (Lamego), o Enterro do Pai Velho do Lindoso (Ponte da Barca) e os Cardadores do Vale de Ílhavo (Ílhavo), entre outros.


Os Caretos de Podence


Os Caretos de Lazarim


Os Caretos de Ousilhão


Os Cardadores do Vale de ìlhavo


Para quem se interessa pelas festas populares e tradições Portuguesas recomendo a colecção, de 8 volumes, “Festas e Tradições Portuguesas”, editada pelo Círculo de Leitores, de Jorge Barros e Soledade Martinho Costa. O Carnaval surge no volume dedicado ao mês de Fevereiro.


3 comentários:

Recicloteca disse...

A propósito do Carnaval, são várias as escolas que investem na reutilização de materiais. Talvez venha-se a assistir a uma redução de actividades, dado que exige um grande trabalho da parte dos educadores/professores e actualmente há uma grande desmotivação.

Atom Ant disse...

É uma pena que se invista pouco nessa importante tarefa de ensinar os miúdos a reciclar, a reaproveitar, a imaginar e criar soluções a partir do "lixo". Esse esforço não deveria ser apenas dos professores, devia ser, também, das famílias...

Eu entendo a desmotivação de todos os professores e partilho, por experiência pessoal, o sentimento que reina nas escolas mas, se desistimos como será o país de amanhã?... se hoje já pouco temos para nos dignificar... :-(

Anónimo disse...

Concordo com a atom ant, em absoluto!
Já agora não posso deixar escapar as incorrecções à língua portuguesa...quando a recicloteca diz: "talvez venha-se a assistir..." deveria certamente querer dizer: talvez se venha a assistir..., não?