Tive conhecimento, através de uma amiga minha que vive e trabalha em Espanha (beijinhos para ti Cátia), que na edição deste ano da Casa Décor havia um espaço adaptado a pessoas com necessidades especiais. Infelizmente, a Casa Décor de Madrid terminou este fim-de-semana (10 de Junho) e eu não tive oportunidade de lá ir. Mas, ainda assim, este facto parece-me merecedor de uma breve reflexão. A iniciativa de incluir um espaço inclusivo na Casa Décor foi do Instituto Europeu de Design, com o patrocínio da Fundación ONCE, do IMSERSO e da Plataforma Estatal Representativa de Discapacitados Físicos (PREDIF). Trata-se de um espaço restaurante adaptado a pessoas invisuais ou de mobilidade reduzida.
Algumas das principais características do espaço:
> zonas de circulação espaçosas;
> diferentes texturas no pavimento para que uma pessoa invisual possa identificar e distinguir, rapidamente, a zona de passagem da zona de mesas;
> mesas circulares que facilitam a visualização de todos os comensais e assim tornar possível a leitura de lábios por pessoas surdo-mudas;
> mesas com pé central e de diâmetro generoso para permitir a fácil colocação de cadeiras de rodas;
> balcão de atendimento com 2 alturas;
> menu em Braille;
É de louvar a iniciativa de incluir, numa exibição deste tipo, as preocupações com a acessibilidade e com a inclusão daqueles que são habitualmente excluídos. Normalmente, estas feiras servem para os designers, arquitectos de ambientes e os decoradores se mostrarem ao público. O que implica que, na maioria das vezes, estes abordam os ambientes numa perspectiva muito comercial e ligada à moda, fazendo grande alarido da forma inovadora como usam os materiais, as cores e as formas, mas ignorando os problemas da acessibilidade física aos ambientes. É uma forma de angariarem clientes para os seus ateliers ou lojas. Não estou a recriminar tal atitude, pois é perfeitamente compreensível, mas posso exprimir o meu descontentamento por terem uma abordagem tão superficial dos ambientes que concebem.
Na sua essência, eventos como a Casa Décor destinam-se a dar a conhecer as novas propostas e tendências, ao nível do mobiliário, dos acessórios ou complementos. Pelo que, os seus visitantes dificilmente serão sensibilizados para os aspectos mais técnico-científicos que os projectos também exigem. Estamos, portanto, a transmitir uma visão muito redutora do que é fazer design nesta área. E isso é pena porque, com pouco investimento, mas usando a inteligência e a criatividade, eventos como este podiam ser usados para “educar” os potenciais utilizadores, fabricantes e criativos. É que estas coisas funcionam um pouco como uma pescadinha de rabo na boca, ou seja, não se fala porque não há pressão do público para abordar estas temáticas e, como o público desconhece a importância do design inclusivo, não há vontade de abordar a questão… Temos que ter a coragem de quebrar o ciclo. E essa é a questão fulcral pois, independentemente da consciência, ou falta dela, face às questões da acessibilidade, os ambientes continuarão a ser mais ou menos amigos dos seus utentes. Os consumidores, muito ou pouco esclarecidos, continuarão a sentir na pele os efeitos de tal desajuste mas a nós, designers, cabe-nos a importante tarefa de criar um mundo mais inclusivo. Não nos podemos esquecer que, amanhã, seremos nós a ter necessidades especiais. Assim dita a lei da vida. Resta é saber como suportaremos esse fardo, se será de uma forma mais cómoda ou mais violenta...
Concluindo, quero dizer que maior virtude desta iniciativa é, no meu entender, a hipótese de ver desmistificada a falsa ideia de que o design inclusivo não é um design vendável. É mostrar que o design inclusivo pode ser igualmente criativo e inovador, que não tem que se assemelhar a produtos hospitalares ou laboratoriais… Mostrar que design e ergonomia estão unidos, se nós fizermos por isso, numa relação feliz e duradoura…
Link: Fundación ONCE
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