5 de junho de 2007

Felicidade Paradoxal

Lipovetsky, Gilles (2007). A felicidade Paradoxal. Ensaio sobre a sociedade do hiperconsumo. Lisboa: Edições 70.

“Numa sociedade em que a melhoria contínua das condições de vida materiais praticamente ascendeu ao estatuto de religião, viver melhor tornou-se uma paixão colectiva, o objectivo supremo das sociedades democráticas, um ideal nunca por demais exaltado. Entrámos assim numa nova fase do capitalismo: a sociedade do hiperconsumo.

Eis que nasce um terceiro tipo de Homo consumericus, voraz, móvel, flexível, liberto das antigas culturas de classe, imprevisível nos seus gostos e nas suas compras e sedento de experiências emocionais e de (mais) bem-estar, de marcas, de autenticidade, de imediaticidade, de comunicação.

Tudo se passa como se, doravante, o consumo funcionasse como um império sem tempos mortos cujos contornos são infinitos. Mas estes prazeres privados originam uma felicidade paradoxal: nunca o indivíduo contemporâneo atingiu um tal grau de abandono”.

> Todos já percebemos que as nossas necessidades são agora alvo de elaboradas estratégias de mercado, com o design a desempenhar um importante papel neste enredo. Somos incitados, de forma quase esmagadora, a consumir. Vivemos, hoje, o presente e apenas o presente. O que realmente interessa é o conforto deste momento actual. Parece que fomos tomados por uma qualquer doença aguda, que nos impede de pensar em algo mais do que a busca do conforto. É óbvio que, este consumismo compulsivo, terá um tremendo impacto sobre as sociedades e sobre o planeta. No meu entender, aqui reside a condição paradoxal do design. Por um lado, o design afirma-se como uma lança da indústria, escudado na suposta a satisfação das necessidades do consumidor, conquistando mercados e engordando os cofres das empresas. Por outro lado, essa avalancha criativa resulta em novidades em catadupa, sufocando os consumidores, deixando-os mais infelizes e esgotando o planeta.

Que papel estaremos nós, designers, a representar?
Quando esta sociedade do hipercosumo for ultrapassada como será avaliado o nosso contributo?
Seremos, então, mais felizes?...

2 comentários:

Anónimo disse...

Vivemos apenas o presente?
Não sei se compreendo bem esta ideia.

Bem…, também podemos viver o passado se esse for mais acolhedor, reconfortante, estimulante mas não sei ao certo se é bom viver o passado em detrimento do futuro e do presente. Aliás, até sinto isso como um sintoma patológico.

Mas certamente que não foi essa ideia que quiseste passar, se bem que estou um bocadinho desconfortável, confesso, não por me considerar um ser materialista e consumista mas por querer criar esse desejo nas outras pessoas, talvez por eu não o ter…

Desejar é bom.
Ou não é bom?

E por outro lado, eu gosto muito de coisas bonitas e as coisas bonitas, como por exemplo a arte ou se quiseres o bem estar, pagasse muito bem pago e nós, claro, estamos por aí algures.
E se calhar também faz parte da nossa vida defender que boas ideias se devem pagar bem, não?

Não sei se concordo com a ideia de que haver muita oferta, traz infelicidade ás pessoas.

Eu acho que a infelicidade vive com as pessoas infelizes.
Nunca passaste um fim de semana com um casal infeliz?
Pois bem, na melhor das hipóteses, o copo está sempre meio vazio, nunca meio cheio. Mas uma e outra coisa são exactamente a mesma, só difere a perspectiva com que é percepcionada a realidade.

As pessoas infelizes estão sempre a arranjar motivos para serem infelizes e para infernizarem a vida aos outros.
Mas o problema não está na publicidade que provoca o desejo ás pessoas infelizes de terem mais do que aquilo que elas podem ter.
O problema não está por fora, o problema vive por dentro.

É um problema de amor.
De amor próprio talvez e de amor aos outros.
E é um problema de educação, pois é!…
E depois é um problema de preguiça, de medo e de vaidade, que a humanidade tem.

Há uma aula que habitualmente dou sobre a nossa história e que vai desde a multiplicação das vacas até ontem á tarde.

É mesmo uma aula sobre design, ok?
A aula começa talvez com a colocação do totem, aquele elemento fálico que significa, chegámos aqui, é NOSSO. É engraçado que quando os Portugueses no século XVI chegam á terra nova colocam o padrão dos descobrimentos da mesma forma que quando o homem chega á lua coloca a bandeira, CHEGÁMOS.

Daí até vendermos e comprarmos tudo, é um grande passo para o Homem e um pequeno passo para a Humanidade.
Será assim?
Hummm?…

O design de comunicação visual nas seus requisitos funcionais opera na informação, na comunicação, na diferenciação, e na venda, claro, claro que há uma grande fatia comercial.
Mas isso é mau?
Faz parte da história da nossa humanidade.
O ter e o haver faz parte de nós e não só!…

Olha, grelha aí um bifezito de lombo daqueles tenrinhos e bem temperado e dá ao “Matias” a ver se ele não gosta?
Não que não gosta.
E depois?
Vai ficar deprimido nos restantes dias por comer biscoitos, é?
A culpa é do bife de lombo?
É da nossa maldade em ter dado o maravilhoso bife ao “Matias”?

O António variações dizia que a culpa era da vontade.
E eu digo, a culpa está dentro de cada um de nós, não fora.
Compreendes as minhas questões?
Então depois explica-me, obrigada e beijinhos.

Entretanto vou ler o livro, ok?

Atom Ant disse...

A ideia de viver o presente está ligada à forma como consumimos. Vejamos, as pessoas hoje em dia não desejam comprar um produto de grande qualidade, que normalmente é mais caro. Hoje, as pessoas compram um produto mais barato porque, amanhã, já o vão querer substituir por outro. Portanto, é o momento actual que conta. Ou seja, a ideia de que o que importa é eu me sentir bem agora e não para sempre. As coisas parecem ter-se tornado efémeras. Anteriormente, as pessoas planeavam a vida a longo prazo. Hoje elas vivem por impulso. Amanhã logo se vê como será... Isso afectou, necessariamente, o design e a forma como fazemos design...