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Neste dia Mundial da criança achei que devia reflectir um pouco sobre os contributos do design para a melhoria da qualidade de vida dos mais pequenos. O design, sobretudo de produto, pode fazer muito pela segurança, saúde e conforto das crianças... mas ás vezes não faz! Basta observar os problemas que estes pequenos consumidores enfrentam no seu dia a dia.
Alguns investigadores sugerem que as crianças estão sujeitas aos mesmos riscos (ou talvez maiores) do que os adultos, uma vez que estão expostas aos mesmos perigos. Veja-se o caso do mobiliário escolar, das mochilas, dos novos equipamentos electrónicos, do vestuário e calçado, dos brinquedos, dos parques infantis, entre muitos outros. Por exemplo, se o trabalho com um computador pode provocar lesões por esforços repetitivos e problemas de visão nos adultos o que fará a uma criança? Se transportar sacos de supermercado pode provocar uma lesão na coluna vertebral dos adultos, carregar uma mochila, com 10kg de livros, o que provocará na coluna de uma criança?
Para que os nossos projectos sejam, de facto, adequados ás crianças é importantíssimo possuirmos alguns conhecimentos de ergonomia que, felizmente, tem vindo a dedicar bastante atenção a esta população. As crianças não podem ser considerados como adultos em ponto pequeno, por isso, o designer deverá possuir conhecimentos específicos sobre elas.
A nossa atenção deverá focar sobretudo 2 aspectos cruciais: a biomecânica e a visão das crianças, entre outros.
Alguns exemplos que ilustram esta problemática:
Os ossos das crianças estão em processo de ossificação, o que significa que o seu crescimento longitudinal só estará completo no final da adolescência, ocorrendo o ponto máximo de deposição de minerais por volta dos 20-30 anos de idade. Mas, frequentemente, as pessoas assumem que as crianças mais altas podem executar, com segurança, tarefas manuais como levantamento de pesos. Contudo, as crianças podem estar a correr grande risco após um “salto” no crescimento, pois os ossos longos podem alcançar, em média, 80% do seu comprimento máximo aos 7 anos de idade, enquanto que o conteúdo mineral dos ossos é de apenas 40% do nível final. Ou seja, os ossos crescem, ficam mais longos, antes de se tornarem mais fortes. O risco também é elevado porque, a seguir a uma fase de crescimento acentuado as crianças precisam de aprender a coordenação motora da nova postura e os tecidos moles precisam de se desenvolver para se adaptar ás novas dimensões.
Outros problemas sérios, que podem afectar toda a vida futura da criança, ocorrem na coluna vertebral. Os bébés nascem sem a curvatura lombar. A sua curvatura lombar desenvolve-se ao longo do seu caminho para a adolescência. Adolescência implica mudanças hormonais que afectam a distribuição de músculo e gordura e, consequentemente, a forma externa das nossas costas. Daí a importância do exercício regular, do movimento, do não transporte de cargas e das posturas de sentar correctas nas crianças (e adultos), tão importantes para a correcta alimentação dos discos intervertebrais e para abrandar o processo degenerativo.
A visão das crianças está em desenvolvimento. Alguns problemas, como a miopia, podem ter origem na sala de aulas ou no design do "posto de trabalho" da criança. Devemos prestar bastante atenção às alturas dos monitores que, inevitavelmente, os forçam a manter campos visuais excessivamente altos. Uma boa iluminação e uma correcta postura contribuirão para uma visão saudável.
Uma coisa é certa, tanto as crianças como adultos podem ficar debilitados pela dor. Estudos recentes indicam que os mais novos experimentam níveis mais elevados de desconforto e dor do que aquilo que normalmente se pensava. Alguns investigadores sugerem que as taxas de dor lombar e de pescoço, das crianças, são comparáveis ás dos adultos.
Enquanto que os adultos estão numa fase de degeneração, as crianças estão em formação!
A infância é uma oportunidade crítica para ensinar bons hábitos de trabalho que podem garantir práticas seguras para a vida. Mais vale aprender, inicialmente, as boas práticas do que ter que reaprender mais tarde, com esforço e de forma dolorosa.
Atenção, pois qualidade do nosso design (ou a falta dela) é definitivamente um factor crítico neste processo.
Podem encontrar alguns recursos (livros, artigos, links) sobre a ergonomia aplicada aos mais pequenos (entre muitos outros temas) no site
Humanics Ergonomics.