25 de junho de 2006

O Amarelo e o Rosa no ciclismo

E como só se fala de boa e de Mundial e do Cristiano Ronaldo e das namoradas dos jogadores... aqui fica um post sobre desporto, mas cuja actividade se socorre de uma bicicleta!


(...) O verde não é a única cor intimamente relacionada com o desporto. Existem muitas mais cores, cujo seu significado emocional se alterou após uma ligação íntima com a prática desportiva. Exemplo disto é a cor amarela. O amarelo foi fortemente menosprezado na Idade Média. Era a cor da mentira e da cobardia. Era a cor dos infames, dos traidores e dos excluídos. O amarelo estava conotado não só com a cultura judaica, mas também com os beatos, os leprosos e os muçulmanos. Estes três últimos apresentavam nomeadamente, pedaços de tecido amarelos, faixas amarelas, estrelas amarelas. Esta cor, apresentava pequenas similaridades com a simbologia do verde: as cores da desordem e da loucura. Apenas existia um amarelo que era cobiçado por todos, desejado por toda a sociedade, existia apenas um amarelo que trazia algo de bom, que era considerado o ópio do povo: o dourado. A cor do ouro Séculos mais tarde, percebe-se que o amarelo continua a ser uma cor de conotações negativas. Transformou-se na cor da doença, na Época Moderna. A doença e a morte, o ciúme e a traição, eram fortemente representados pelo amarelo. Na política também o amarelo se associa à revolução e à traição. No entanto, no ano de 1919, e contrariamente a todas estas conexões simbólicas e emocionais que a cor amarela apresentava, Eugéne Christophe, escolhe o amarelo, para assinalar e simbolizar o ciclista que ocupava o primeiro lugar na célebre prova de ciclismo o “Tour de France”. E foi mesmo o primeiro a usá-la, apesar de ter terminado esta edição em 3º lugar.
Esta escolha contribuiu em muito para ajudar a valorizar a cor amarela. Curiosamente, a preferência por esta cor, teve um critério associado à sua escolha, que não foi de todo nem simbólico, nem emocional e muito menos sensorial ou conceptual. Esta cor foi escolhida, pura e simplesmente, porque o jornal organizador deste evento, o “L'Auto” era impresso em folhas de papel amarelas. Foi portanto uma inteligente manobra de marketing para associar uma prova ao seu maior patrocinador e organizador. Este objecto amarelo, e ao contrário dos amarelos da Idade Média, passou a ser o objecto mais desejado e ambicionado por todos os ciclistas. Rapidamente esta ideia de que “quem está de amarelo está na frente” se extrapolou para os hábitos e práticas sociais de hoje. “Estar na frente”, “estar na cabeça”, “ser o chefe”, ou ser pura e simplesmente “o melhor”, significa obviamente ser “líder”. E ser líder é usar a camisola amarela em determinada função ou profissão. Curiosamente em Itália, o líder da Volta a Itália em bicicleta, “O Giro d'Italia” veste uma camisola rosa exactamente pela mesma razão que no “Tour de France” se veste uma amarela: o “Giro” era patrocinado pelo jornal “Gazzetta dello Sport” que era impresso em papel de cor rosa.


Da esquerda para a direita:
_Camisola Amarela do “Tour de France”. Neste caso, Lance Armstrong (1971 - ?), vencedor das últimas 7 edições desta prova de ciclismo, a mais famosa e carismática do panorama internacional.
_Página do jornal, “L’Auto”. Jornal célebre que “deu cor” à camisola do vencedor do “Tour de France”
_O Camisola Rosa do “Giro d’Italia”. Neste caso, Marco Pantanni (1970 - 2004), a erguer o troféu da edição de 1998. Faleceu 2 anos mais tarde vitíma de uma overdose de cocaína.

4 comentários:

Atom Ant disse...

Muito interessante essa relação das camisolas com os jornais desportivos.
Não fazia ideia... mas gostei de saber ;)

Anónimo disse...

Estou a gostar bastante destas "lições" sobre simbologia da cor! Continua, Corto, continua!

Sandra disse...

Solicito intercâmbio de informação sobre Cor! Este blog é sem dúvida uma caixinha de surpresas!!!! Mais sobre a matéria por favor!

Anónimo disse...

Muito interessante.
Até se aprende um bocadinho de história com as cores ;)