21 de junho de 2006
E se a relva fosse vermelha?
Ao longo dos dias, meses, anos e séculos, na linguagem e nos gestos, quer queiramos quer não todos nós utilizamos e nos socorremos dos símbolos. Dão um rosto aos desejos, incitam a determinadas atitudes, justificam comportamentos. A simbolização, ou seja, uma das formas mais evidentes de comunicação, faz-nos compartilhar regras de linguagem, hábitos, costumes, ideias. Para que essa comunicação seja eficaz, não é necessário que os intervenientes estejam de acordo, mas é imprescindível que todos participem do mesmo código de comunicação. O código simbólico da cor, chamemos-lhe assim, compactua cuidadosamente dos mesmos princípios.
A cor figura em tudo o que nos rodeia e muitas vezes questionamo-nos o porquê desta ou daquela cor em determinadas situações, em determinados sítios, em determinadas coisas e até em determinadas práticas sociais. Uma das práticas sociais onde esta está presente é no DESPORTO.
Hoje em dia o desporto tornou-se num ritual em que o excesso de cores é mais vivo que na Idade Média, por exemplo, e num ritual em que essas cores se coadunam de acordo com os sistemas mais bem sucedidos. O terreno de jogo sempre foi conotado com uma espécie de “espaço sagrado” onde se desenrola a prática do desporto. Este espaço delimita duas áreas distintas: o terreno dos deuses, ou seja, o espaço sagrado onde se desenrola determinado ritual, e o terreno do comum dos mortais. Se pensarmos na prática do futebol, que continua a ser o costume desportivo que mais público move, e olharmos atentamente para o terreno de jogo, apercebemo-nos que esse espaço de hábitos desportivos tem como tapete o verde. Um verde espectacularmente bem tratado e cuidado. O verde é a cor do desporto. Desde meados do séc. XII que esta cor, pelo menos no Ocidente, é a cor do jogo e do desporto. Se recuarmos no tempo até à cultura medieval, vamos ver o verde como cor do jogo, do desporto, da juventude e do movimento. A cor da Fortuna. É e sempre foi a cor mais dinâmica e ambígua de todas as cores. Uma cor que representa o que é e o que vai ser, o dito pelo desdito, a desordem e a ordem. O verde será então visto como uma cor ambivalente, pois se é a cor da Fortuna, também é a do infortúnio, se é a cor da juventude, esta mais tarde ou mais cedo acaba por se transformar em velhice. A cor verde está assim ligada simbolicamente, ao acaso e à sorte, ao dinheiro ou à falta dele. Por vezes à fatalidade. É a cor daquilo que muda.
Então... e se a relva fosse vermelha?
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
Estou a imaginar um imenso campo vermelho... não sei se gostaria de ver. Provavelmente haveria muito mais pancada e violência pois é uma cor muito estimulante. Já vi mesas de snoker com pano vermelho e o impacto é tremendo...
Enviar um comentário